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Por uma agricultura eficiente
31-05-2024 11:00

Portugal tem uma disponibilidade hídrica suficiente para as necessidades do país em valores médios anuais e para a globalidade do território. Porém, como o país tem um clima mediterrânico, existe grande variabilidade sazonal e anual, levando a períodos de escassez de água frequentes em diferentes pontos do território. Adicionalmente, as projeções apontam para períodos de menor precipitação e secas mais frequentes, devido à mudança climática. Quem o diz é Nuno Canada, presidente do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), o qual acrescenta que, neste contexto, é necessário "investir no armazenamento dos recursos hídricos de forma a ajustar as disponibilidades às necessidades, ou seja, reduzindo as probabilidades de escassez hídrica". Quanto à agricultura, deve-se fazer o que tem sido feito nas últimas décadas, e bem, e "regar com maior eficiência, utilizando técnicas e equipamentos adequados".

Mas, em concreto, o que é preciso fazer para se ter uma gestão eficiente dos recursos hídricos para a agricultura em Portugal? É preciso incrementar as reservas de água e promover o uso eficiente, explica-nos o INIAV, sendo-nos especificado de seguida o que é necessário fazer em cada uma destas dimensões.

No que toca à disponibilidade de água, há a necessidade de ter em consideração as especificidades do território e escolher as soluções técnicas que apresentam melhor relação custo-benefício para cada realidade. A solução de longo prazo para aumentar as disponibilidades de água passa por um conjunto de abordagens complementares adaptadas a cada um dos territórios. São exemplos destas soluções a construção de reservatórios – como barragens, açudes ou charcas –, os transvases de água, a modernização de barragens, a construção de estações de dessalinização e a reutilização de águas residuais tratadas.

"O INIAV presta apoio a técnicos especialistas, nomeadamente das Associações de Regantes, no que respeita à utilização de soluções inovadoras na área do regadio." Nuno Canada, presidente do INIAV

Em relação ao uso eficiente da água, é-nos sublinhado que tem sido feito um percurso impressionante na área da agricultura. A utilização crescente da agricultura de precisão permite um uso cada vez mais eficiente dos recursos em geral e da água em particular. No domínio da agricultura inteligente, a utilização mais generalizada de ferramentas de inteligência artificial, que se prevê que ocorra no curto prazo, permitirá otimizar mais ainda o uso dos recursos hídricos. Verifica-se também o desenvolvimento de estratégias de boas-práticas relacionadas com: a rega deficitária para redução do consumo de água; o uso de sensores e de práticas de monitorização da água no solo para a melhoria da gestão dos sistemas de captação, armazenamento e distribuição de água; a seleção de cultivares mais tolerantes à secura; o recurso a métodos e técnicas para a redução de perdas de água na parcela, entre outros.

Apoio técnico-científico, ações de formação e muito mais

Importante nesta caminhada de promoção de uma correta gestão dos recursos hídricos para a agricultura em Portugal, o INIAV tem assumido "um papel central no que respeita ao apoio técnico-científico prestado aos agricultores no domínio do regadio, quer seja através da organização de Dias de Campo, ações de formação ou seminários; pela elaboração de manuais técnicos, destacando-se a publicação "Orientações sobre práticas de regadio na exploração agrícola", recentemente publicada; ou mediante a publicação de artigos técnicos sobre recursos hídricos e regadio, em revistas de divulgação do mundo rural". Refere-se ainda o "apoio prestado a técnicos especialistas, nomeadamente das Associações de Regantes, no que respeita à utilização de soluções inovadoras na área do regadio", afirma Nuno Canada.

O INIAV tem ainda um papel interventivo no apoio ao desenvolvimento de normas, integrando vários grupos de trabalho, dos quais se destacam o GT do Instituto Português da Qualidade (IPQ) e as Normas ISO (International Organization for Standardization), para a certificação de águas residuais em uso agrícola.

Adicionalmente – prossegue Nuno Canada –, o INIAV integra o Conselho Nacional da Água e vários dos seus grupos de trabalho, "contribuindo ativamente para a elaboração de publicações, relatórios e pareceres sobre seca e alterações climáticas, com avaliação dos impactos da agricultura e regadio na gestão dos recursos hídricos". Neste âmbito, destaque-se a publicação de "Medidas Sustentáveis para evitar a escassez de água em contexto de secas prolongadas", de outubro de 2023. Contribui igualmente na área do regadio para o Plano Nacional de Investimentos 2030 (PNI 2030), que tem como objetivo ser o instrumento de planeamento do próximo ciclo de investimentos estratégicos e estruturantes de âmbito nacional.

Projetos de investigação e experimentação no tema da água na agricultura em cooperação com outros parceiros é outra das áreas centrais de atividade do INIAV.

Projetos em que está envolvido o INIAV

O INIAV tem participado em diversos projetos com foco na eficiência do uso da água na agricultura. A saber:

. DigiFarm2all – Sustentabilidade e Democratização da Agricultura 4.0

. Olivar IA – Robótica Cooperativa Inteligente aplicada à Olivicultura de Precisão

. I-ReWater – Gestão sustentável dos recursos hídricos na agricultura de regadio no espaço SUDOE

. SustainGrowth – Sistema de certificação da produção nacional rumo à intensificação sustentável da agricultura

. Grupo Operacional AGIR – Avaliação da eficiência da água e energia em aproveitamentos hidroagrícolas

Investigação na sustentabilidade e gestão de água

Em Portugal, existem diversos projetos de investigação nas áreas da sustentabilidade e gestão da água, financiados por diferentes programas europeus. A saber:

. Programa PRIMA

. Programa Interreg Espanha-Portugal (POCTEP)

. Programa de Desenvolvimento Rural do Continente (PDR 2020)

. Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) para Portugal

"Estamos empenhados em produzir mais com menos"

Referência nacional e internacional na comercialização de pequenos frutos, a Driscoll’s Portugal, que faz parte do grupo Driscoll’s Internacional, é um excelente exemplo de boas-práticas, sustentabilidade e gestão de água nas suas operações. Por isso, a empresa foi convidada (juntamente com o INIAV) a participar no Semear o Futuro, projeto criado pela CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal e pela Mercadona, com o objetivo de debater temas atuais do agroalimentar, destacar boas-práticas e dar a conhecer projetos inovadores no setor. Para conhecer melhor a empresa, falámos com Mario Steta, VP of Operations South, Sustainability & Compliance Driscoll’s EMEA de uma organização familiar com 140 anos de história na produção de pequenos frutos.

O que produz a Driscoll’s e qual é o vosso objetivo?

Oferecemos morangos, framboesas, amoras e mirtilos frescos. A nossa ambição é produzir de acordo com os mais altos padrões de qualidade e com práticas sustentáveis e dedicamo-nos a produzir frutos deliciosos, frescos e irresistíveis. As nossas berries chegam ao mercado com a icónica marca de rótulo amarelo Driscoll’s.

Fale-nos um pouco sobre as boas-práticas Driscoll’s na produção dos seus frutos.

Tudo começa com o nosso programa de R&D (pesquisa e desenvolvimento), através do qual procuramos obter as variedades mais saborosas. De forma natural, criamos plantas de berries que possam ser mais resistentes a doenças e pragas e mantenham os nossos padrões de qualidade, ao nível de sabor e aparência. Todos os anos, estudamos milhares de potenciais plantas para escolher 1% das melhores, que podem posteriormente ser cultivadas e vendidas sob a marca Driscoll’s. Além do nosso programa de breeding, dispomos, localmente, de técnicos especialistas em agronomia, que apoiam a nossa rede de produtores independentes com as melhores práticas agrícolas. Devido à nossa escala e alcance globais, as nossas equipas têm a possibilidade de partilhar, regionalmente, as melhores práticas alcançadas numa grande diversidade de climas, altitudes e condições. Esta experiência permite aos nossos produtores produzir fruta da melhor qualidade, de forma eficiente e sustentável.

Pode dar exemplos?

Um bom exemplo é a produção em substrato, que possibilita a irrigação de precisão e a recirculação da água. Outro exemplo é a utilização de predadores naturais, como o "persimilis", no controlo natural de doenças e parasitas das plantas. Por último, mas não menos importante, os esforços diários das nossas equipas no terreno em garantir que os frutos são produzidos de acordo com todos os requisitos de segurança alimentar e assegurando os nossos padrões laborais.

O que vos distingue de outras empresas da área no que diz respeito à sustentabilidade e gestão de água das vossas produções?

A Driscoll’s, pela sua escala global e programa de R&D, está a criar melhores práticas, a promovê-las e a implementá-las junto da sua rede global de produtores independentes. As nossas equipas estão, continuamente, a ensaiar, observar e partilhar novas práticas. Em conjunto com os produtores, estamos empenhados em produzir mais com menos. Isto passa por uma melhor gestão da água, formas naturais mais eficazes para proteger as plantas e melhorar a circularidade em toda a cadeia de produção. Também temos vindo a implementar, nos nossos escritórios e armazéns, práticas mais sustentáveis, como a utilização das energias renováveis e a reciclagem. Procurámos, igualmente, formas de reduzir o desperdício e lançámos as embalagens de cartão, que significaram uma redução da quantidade de plástico em mais de 94% e da pegada de carbono, por embalagem, em mais de 45%. A embalagem é reciclável e produzida em papel certificado FSC.

A água é um desafio?

A água é o desafio e é-o a nível mundial, não apenas para os produtores agrícolas, mas para as comunidades em geral e muitos outros setores económicos. Apesar de o uso de água para a produção de pequenos frutos ser até mais baixo quando comparado com outras culturas agrícolas, o facto é que não podemos produzir sem ela. Enquanto líder global dos pequenos frutos frescos, estamos comprometidos com a gestão sustentável e a utilização equitativa da água, é uma prioridade para nós. A nossa capacidade de aprender, inovar e adaptar a forma como gerimos os recursos pode trazer benefícios para as comunidades onde se cultivam as nossas berries. A nossa prática global permite-nos partilhar e apoiar, nas regiões onde operamos, práticas mais sustentáveis da utilização da água. Para alcançar esse objetivo, trabalhamos em conjunto com os nossos produtores, stakeholders das comunidades, autoridades para a gestão dos recursos hídricos e organizações não governamentais. Também foram criadas posições profissionais e task forces, regionais e globais, para investigar, produzir conhecimento e desenvolver soluções inovadoras para uma mais eficiente gestão da água.

Quais são os vossos projetos para o futuro?

Muito haverá ainda por fazer, aprender e alcançar, mas as nossas equipas vão continuar a concentrar-se em explorar e promover práticas melhores e mais sustentáveis. Isto significa continuar a avançar na recirculação da água, através da utilização de reservatórios de águas pluviais e sistemas de irrigação inovadores para uma gestão e uso mais eficientes. Também continuaremos a apoiar os nossos produtores com a implementação de novas certificações ao nível da água e da sustentabilidade, como a LEAF ou SPRING. E vamos, com toda a certeza, continuar a partilhar toda a experiência adquirida e conhecimento criado pelas nossas equipas regionais e no novo Centro de Investigação para a Sustentabilidade.


 




Uma parceria que dá frutos


25%

A Driscoll’s, o INIAV, a organização de produtores Lusomorango e o produtor Maravilha Farms juntaram-se e criaram o primeiro Centro de Investigação para a Sustentabilidade, com o objetivo de abordar uma utilização mais responsável dos recursos hídricos e promover as melhores práticas na produção de pequenos frutos respeitando, também, a biodiversidade. Esse conhecimento científico destina-se a ser depois partilhado com os produtores, com a academia de um modo geral e também com a comunidade local. Estudos preliminares do centro demonstraram já que é possível uma nova abordagem na irrigação, que usa menos 25% de água do que as práticas-padrão, sem comprometer produtividade ou rendimento.

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