A promessa e o desafio da Web3
13/05/2024 14:00
A internet, tal como a conhecemos, está em constante evolução. Desde as primeiras páginas estáticas da Web1 às interações complexas da Web2, dominada pelas redes sociais e comércio eletrónico, o crescimento tem sido exponencial. No entanto, nos últimos anos, uma nova revolução tem vindo a anunciar-se no horizonte, prometendo mudar a forma como interagimos online. Denominada Web3, esta nova era é um conceito introduzido pelo cientista da computação Gavin Wood, que sugere uma internet descentralizada construída sobre a tecnologia de blockchain.
Distinto do modelo centralizado atual, no qual grandes corporações controlam a maior parte dos dados e da infraestrutura, a Web3 basicamente propõe um sistema em que os utilizadores têm controlo e propriedade sobre os seus próprios dados por meio de redes distribuídas. Este modelo não só promete melhorar a segurança e a privacidade dos utilizadores, mas também democratizar o acesso à informação.
O conceito não é novo. Desde 2018, o interesse por esta nova fase da internet tem crescido. Investimentos em startups de blockchain, registos de patentes ligados à tecnologia e discussões académicas sobre o potencial da Web3 têm-se multiplicado. No setor financeiro, por exemplo, as chamadas bolsas de finanças descentralizadas já movimentaram volumes diários superiores a 10 mil milhões de dólares, mostrando um vigoroso interesse e uma aplicação prática do conceito. O BPI é um dos exemplos na banca que "insiste" em explorar estas novas tendências e conceitos. Afonso Eça, diretor executivo do Centro de Excelência para a Inovação e Novos Negócios do BPI, assume que falar de Web3 é abordar uma terceira fase em que vamos entrar na economia digital. E insiste que Portugal pode lucrar destas novas realidades, no sentido de potenciar a dimensão da economia nacional. "Se formos comparar os PIB deste género de espaços, será difícil dizermos que não queremos participar deste género de economia." Afonso Eça destaca que tudo isto não é propriamente novo. O que é, de facto, recente é a perceção do mundo corporativo em relação a estes fenómenos. "Passamos a ver as marcas interessadas em participar. É raro ver marcas de grande consumo que não tenham um qualquer projeto para o metaverso ou Web 3.0."?
Uma web espacial
A Deloitte tem a curiosa visão de que a Web3, ou a "Web Espacial", combinará a aprendizagem de máquina da web semântica com tecnologias de contabilidade distribuída como blockchain para autenticar e descentralizar informações, resultando numa "interação com informações longe dos ecrãs ao encontro do espaço físico".
Assim, parece unânime entre as várias "casas" de especialistas que as "marcas" da Web3 serão a descentralização e maior interação do utilizador e controlo sobre os dados. Dados esses que vão ser dispersos numa variedade de recursos de computação, incluindo telefones, aparelhos, sensores e veículos, em vez de mantidos exclusivamente em armazenamentos de dados centrais, e, como diz a Deloitte Insights, "eliminem eventualmente a fronteira entre conteúdo digital e objetos físicos que hoje conhecemos" e "melhorem a eficiência, comunicação e entretenimento de uma forma que apenas estamos hoje a começar a imaginar".
Na realidade, as tecnologias potenciadas pela Web3 são as inovações que, na realidade, já conhecemos: realidade aumentada e virtual, rede avançada (por exemplo, 5G), geolocalização, dispositivos e sensores da Internet das Coisas, tecnologia de contabilidade distribuída (por exemplo, blockchain) inteligência artificial e aprendizagem de máquina.
A Deloitte refere que, por mais futurista que pareça, as aplicações iniciais da Web3 já estão aqui. Agora, é a hora de os líderes entenderem o que é que esta próxima era da computação implica, como pode transformar os negócios e como pode criar novo valor à medida que se desenvolve. "A linha outrora nítida entre os mundos digital e físico já começou a confundir-se. Hoje, ouvimos falar de cirurgiões que experimentam modelos anatómicos holográficos durante procedimentos cirúrgicos. Os trabalhadores da indústria, manutenção e armazéns estão a medir ganhos de eficiência significativos pelo uso da Internet das Coisas (IoT) e realidade aumentada. As cidades estão a criar imagens totalmente digitais em 3D de si mesmas, ajudando a melhorar a tomada de decisões e o planeamento de cenários." Ainda assim, a Deloitte defende que há uma sensação de que ainda não estamos "lá".
Transição ainda demora
No entanto, a transição para a Web3 não é simples nem imediata. Muitos desafios técnicos e regulatórios precisam de ser superados, menciona a consultora McKinsey, alertando para o facto de a complexidade da tecnologia blockchain, a necessidade de uma maior escalabilidade e preocupações com a segurança serem apenas alguns dos obstáculos a serem enfrentados. Além disso, salientam que a falta de compreensão sobre o que realmente é a Web3 ainda é significativa. Uma sondagem recente da Harvard Business Review revelou que quase 70% dos entrevistados não sabiam exatamente o que a Web3 representa.
A verdade é que o futuro da Web3 ainda está a ser escrito. Entre promessas de uma internet mais livre e justa e os desafios da implementação de uma tecnologia ainda em maturação, a terceira geração da web pode ser o próximo grande salto na evolução digital. Resta saber se, desta vez, o encanto da novidade se traduzirá numa mudança real e duradoura no ciberespaço.
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