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Quando a necessidade impulsiona a transformação
27/01/2023 14:00

Do alto dos seus 2,03 metros de altura, Clayton Christensen, o imponente professor de Harvard, impressionava pelas suas ideias e conceitos. Na sua obra mais conhecida e influente, "O Dilema da Inovação" (The Innovator’s Dilemma) - considerado pelo The Economist como um dos seis mais importantes livros de negócios já escritos -, Christensen defendia que as razões pelas quais muitas empresas se tornavam bem-sucedidas eram as mesmas que causavam a sua queda.

Para Christensen, essas empresas ficavam tão centradas em continuar a utilizar os mesmos processos e fazer as mesmas coisas que faziam há décadas que se tornavam basicamente "cegas" à entrada no mercado de novas empresas, muitas vezes mais pequenas, mas mais rápidas e dotadas de um elevado sentido de inovação, materializado em produtos e serviços disruptivos.

As rotinas mudaram e a tecnologia permitiu trazer alguma normalidade no meio da rutura. Mariana Salvaterra
General manager da Zühlke

Quando o físico Thomas Kuhn publicou "A Estrutura das Revoluções Científicas", em 1989, já defendia que o progresso da ciência não ocorre através de inovações incrementais, mas, antes, via drásticas ruturas no modelo vigente. Este filósofo da ciência defendeu a ideia de que "o progresso científico não acontece linearmente e de forma contínua, assumindo ajustes e adaptações, mas antes através de mudanças completas de paradigma advindas da impossibilidade de adaptar o paradigma vigente à anomalia", explicou ao Negócios a filósofa Raquel Martins. "O paradigma, confrontado com a impossibilidade de se reformular de forma a integrar a anomalia, cairia, e consigo cairia toda uma visão de mundo, seguindo-se-lhe um paradigma radicalmente novo, uma revolução científica. Assim, a profunda disrupção e rutura será em essência transformadora e obrigará à destruição de normas e à criação de novos espaços". E, todos sabemos, estes últimos anos têm sido particularmente pródigos em pôr à prova o mercado, as empresas, as sociedades, as pessoas. Seja em forma de pandemia, de guerra ou crise ou instabilidade financeira.

Uma pandemia de oportunidades

Mariana Salvaterra, general manager da Zühlke, admite que a pandemia que abalou o mundo em 2020 veio, sem dúvida, trazer uma grande disrupção a diferentes esferas da vida pessoal e profissional. "Mas se é verdade que trouxe desafios, também abriu várias janelas de oportunidades para procurarmos inovar, expandir horizontes e potenciar a disrupção." Salvaterra fala em diferentes plataformas, ferramentas e aplicações tecnológicas que permitiram, enquanto profissionais e pessoas, continuar a operar de algum modo durante a pandemia. "As reuniões multiplicaram-se através de um ecrã, aprendemos a equilibrar vida privada e trabalho no mesmo espaço, transformámos o contacto com a equipa, fizemos as compras de mercearia com um clique. As rotinas mudaram e a tecnologia permitiu trazer alguma normalidade no meio da rutura".

No caso das empresas tecnológicas, as mudanças impulsionadas pelo contexto pandémico revelaram-se o boost necessário para levar o que já estava implementado como modus operandi em alguns escritórios a outras geografias. "Os desafios são diferentes de equipa para equipa, e sem dúvida de que o cenário pós-covid traz muitas questões e espaço para continuarmos a inovar e encontrar soluções à medida das novas operações e necessidades. Como conseguimos manter o engagement dos colaboradores em modelos diferentes? É possível criar coesão à distância? De que forma podemos fomentar a nossa cultura e os nossos valores com profissionais em diferentes localizações? E como reforçamos o espírito de equipa?" Tudo questões para as quais o mercado teve de arranjar resposta diariamente.

"Percebemos que, no fim de contas, o ingrediente fundamental nesta procura pela receita perfeita é a satisfação das equipas e, por isso, enquanto tecnológica, procuramos que o nosso work model esteja cada vez mais alinhado com a felicidade organizacional - cada pessoa tem o seu ambiente de produtividade ideal, e é aí que alcançamos a inovação e os melhores resultados", disse a executiva, salientando que a escassez de talento em tecnologia é uma constante, agora agravada com a possibilidade de multinacionais contratarem colaboradores que trabalham sob condições muito competitivas para mercados estrangeiros, a partir de Portugal. "Cabe-nos perceber que o que antes da pandemia se assumia como fator diferenciador (as nap rooms, os cocktails à sexta-feira, os escorregas e piscinas de bolas) perde a vantagem e precisa de ser reinventado."

Crise em chinês "é" oportunidade

Mas os seres humanos são, por norma, flexíveis e criativos, e mediante os seus recursos internos, tendem a conseguir adaptar-se às circunstâncias criando muitas vezes novas oportunidades. "Falamos de rutura quando estamos perante um sentimento de segurança e bem-estar que foi abalado. Surgem sentimentos de incerteza que podem afetar a nossa saúde psicológica e emocional", explana a psicóloga Cristiana Cardoso. "As ruturas, a que chamo crises, acontecem nas nossas vidas por muito que as tentemos evitar. São experiências desagradáveis porque nos levam para ‘fora da nossa zona de conforto’, de certezas e de previsibilidade". Assim, para esta profissional, as crises não se referem necessariamente a uma situação ou acontecimento, mas sim à reação do indivíduo a um acontecimento. "A palavra ‘crise’ escrita em chinês representa exatamente os componentes de uma crise, uma vez que é formada pelos carateres que correspondem ao ‘perigo’ e à ‘oportunidade’".

É nestes momentos de crise que o ser humano se desenvolve e se reinventa. Cristiana Cardoso
Psicóloga

Cristiana Cardoso é igualmente da opinião de que "é frequentemente nestes momentos de crise que o ser humano se desenvolve e se reinventa." Com base nesta capacidade de adaptação surgem frequentemente novas oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. "É a necessidade de olhar para a realidade de outro ponto de vista".

Transformar a forma de viver e trabalhar

Da pandemia à guerra, novas dificuldades emergiram, sobretudo pela escassez de materiais e componentes. "Quando desenvolvemos software e protótipos para um aparelho cujas matérias-primas estão em falta, é preciso inovar e procurar alternativas para continuarmos a funcionar", comenta Mariana Salvaterra É a necessidade que impulsiona a transformação, diz a gestora.

Mas há outros momentos de rutura, provavelmente menos percetíveis e igualmente importantes, como a condução com GPS constante, os conteúdos de TV on demand sem ter de gravar algo para ver mais tarde ou a possibilidade de comprar diretamente online os produtos que queremos, com maior facilidade de pagamento. "É a inovação tecnológica, sob auspício de responder às exigências e necessidades deste Admirável Novo Mundo, que permite transformar a forma como vivemos e trabalhamos."

Para Mariana Salvaterra, estamos, no fundo, no rescaldo de um momento muito impactante no mundo como o conhecemos, que transformou a memória do passado, a vivência do presente e as expetativas para o futuro. "Enquanto organizações tecnológicas, devemos continuar a procurar de que forma estamos a contribuir não só para atenuar efeitos adversos, procurando inovar, mas também para integrar as aprendizagens no modo como gerimos a carreira e valorizamos as nossas equipas."

Evolução é feita (também) pela guerra

Do ponto de vista da História, parece indiscutível que todo o percurso da humanidade foi no sentido de evitar a rutura, entendida como corte ou disrupção de uma certa estabilidade, traduzida muitas vezes como uma quebra brusca das dinâmicas políticas, sociais ou económicas. "Contudo, se a rutura é causa de ansiedade social, a verdade é que a História prova que a sua própria evolução foi feita, em grande parte, destes cortes e interrupções, mais ou menos violentos, que emergiram nas sociedades e se ofereceram como elementos de tensão, desgaste, sofrimento ou de ansiedade coletiva", defende Pedro Couceiro, doutorado em História e docente do departamento de Ciências Sociais da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança. Para este catedrático, guerra é, sem prejuízo de outros exemplos, um dos elementos mais disruptivos da marcha da História. "De tão presente na existência da memória da grande maioria dos povos, é, paradoxalmente, muitas vezes esquecida como uma permanência histórica. De facto, não andaremos muito longe da verdade se reconhecermos que podemos encontrar na História universal mais momentos de conflitualidade belicista, real ou meramente latente, manifestada em relações entre Estados e/ou comunidades, do que momentos de paz e cordialidade relacional entre entidades diversas."

Para todos os efeitos, Pedro Couceiro admite que a guerra sempre se inscreveu na História como elemento fundamental no percurso de construção e consolidação social e política das sociedades. "Diga-se, aliás, que a opção belicista contribuiu manifestamente para o entendimento, justificação e aceitação da própria existência coletiva das comunidades, quer como momento fundacional, quer como significado ou sentido justificativo na construção identitária dos coletivos sociais e culturais."

Suportado por Manuel Fraga Iribane, na sua obra "La Guerra Y la teoria del Conflito Social", Pedro Couceiro enfatizou ao Jornal de Negócios que a guerra não deixa de se apresentar como uma expressão coletiva, endémica e violenta na compreensão dos conflitos sociais, transformando-a num dos fenómenos sociais mais importantes e presentes na História. "Percebe-se, então, que a rutura e a ansiedade causadas pela guerra e o percurso da humanidade são muito mais próximos e complexos, e a sua historicidade como instrumento preferencial de resolução de conflitos e, acima de tudo, o que arrasta em termos psicológicos ao difundir uma linguagem de morte, sofrimento humano e de crise social, tudo isso faz com que a guerra, enquanto fenómeno social fraturante, deva ser alvo de um maior interesse na atualidade, ao mesmo tempo que terá de ser sempre compreendida no seu significado histórico.


Primeira Conferência
Prémio Nacional de Inovação

O Prémio Nacional de Inovação terá a sua conferência de lançamento no próximo dia 15 de fevereiro, no Terminal do Porto de Leixões. O evento irá contar com a presença de Diana Ramos, diretora do Jornal de Negócios, Francisco Barbeira, administrador do BPI, e António Miguel Ferreira, managing director da Claranet.

Pedro Brito, associate dean da Nova SBE, fará a apresentação do prémio, enquanto Rui Coutinho, executive director Innovation Ecosystem da Nova SBE, será o primeiro keynote speaker do dia, abordando o tema "O Estado da Inovação".

Vasco Portugal, CEO da Sensei Tech, irá apresentar a "Innovation Story", cedendo depois o palco ao debate "Desafios da Inovação em Portugal", que contará com a participação de Afonso Eça, diretor executivo do Centro de Excelência de Inovação e Novos Negócios do BPI, Ana Casaca, diretora de inovação da Galp, Joana Mendonça, presidente, ANI - Agência Nacional de Inovação, e Sérgio Silvestre, diretor-geral de Inovação da Claranet.

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