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Metade dos alunos deslocados do ensino superior vive em quartos sem contrato
21/11/2024 10:09

Metade dos alunos deslocados do ensino superior vive em quartos sem contrato de arrendamento e sem hipótese de recorrer a apoios financeiros, segundo um estudo nacional, que estima que gastem cerca de mil euros mensais para estudar.

Uma equipa de investigadores entrevistou, no ano passado, milhares de alunos das instituições de ensino superior situadas nas regiões de Lisboa e do Porto e detetou que, entre os estudantes deslocados, 48% não possuem contrato formal de arrendamento e 51% afirmam que o senhorio não emite recibos de renda.

Em cada 10 alunos, quatro vivem longe de casa e por isso precisam de arrendar um espaço. Sem contratos, estes estudantes não conseguem aceder a apoios como o complemento de alojamento, ficando numa "situação de grande vulnerabilidade", alerta o estudo "Cartografia e dinâmicas socioeconómicas dos estudantes do ensino superior do Grande Porto e da Grande Lisboa", hoje divulgado pela Edulog.

Um aluno a estudar longe de casa pode facilmente representar um custo para a família de mil euros mensais, sendo a maior fatia para pagar o alojamento, contou à Lusa a investigadora Maria José Sá e uma das autoras do estudo.

A maioria dos alunos paga entre os 200 e os 400 euros de renda mensal, mas há quem gaste 600 euros em habitação, exemplificou a especialista, lamentando que sejam poucos os que têm a sorte de conseguir um quarto numa residência universitária a preços acessíveis.

"As residências universitárias não conseguem responder ao número de pedidos dos estudantes, que são atribuídos primeiro aos estudantes bolseiros", explicou Maria José Sá, em entrevista à Lusa.

As camas em residências universitárias têm vindo a aumentar, mas continuam a ser insuficientes, já que apenas 3% dos estudantes que concorrem a uma vaga conseguem um lugar. Resultado: Os restantes alunos têm de se sujeitar "ao arrendamento de quartos com custos elevadíssimos", sublinha o estudo.

Depois há os custos com a alimentação, sendo que a maioria gasta entre 50 a 110 euros, mas também há um número considerável de estudantes que despende acima de 170 euros, em especial os deslocados e estrangeiros.

Como a maioria vive perto das escolas, os gastos com transportes têm pouca representatividade, sendo o transporte público o meio mais utilizado.

No entanto, a estes custos é ainda preciso contabilizar as faturas de água, luz ou internet e, tudo somado, é normal ter contas mensais "a chegar perto dos mil euros", alertou a investigadora.

"Uma família que tenha dois filhos a estudar no ensino superior torna-se insustentável", até porque as famílias continuam a ser quem mais paga as contas.

Dois em cada três alunos (66,5%) dependem financeiramente das famílias para frequentar o ensino superior, sendo as bolsas de estudo a segunda principal fonte de financiamento, sendo considerada insuficiente para responder às necessidades da população estudantil deslocada, segundo o estudo.

"Muitos senhorios não passam recibo e por isso os alunos não podem aceder a apoios como o complemento de alojamento", salientou Alberto Amaral, coordenador científico do Conselho Consultivo do Edulog.

Por isso, os investigadores recomendam uma maior celeridade do programa de residências universitárias, para que sejam disponibilizados muito mais quartos a preços acessíveis.

Além da criação de mais alojamentos subsidiados, os investigadores recomendam um aumento das bolsas de estudo e a revisão dos critérios de elegibilidade, segundo o estudo desenvolvido no âmbito de um projeto de investigação do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES), apoiado pelo Edulog, o think tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo.

Os investigadores recomendam também o aumento de financiamento estatal das IES e o financiamento direto aos estudantes.

Maria José Sá salientou que o estudo retrata a realidade das regiões de Lisboa e do Porto, onde se encontra a maioria das instituições de ensino superior e mais de metade dos alunos a frequentar o ensino superior, e que no resto do país o cenário será diferente.





SIM // ZO

Lusa/Fim

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