A batalha pela sustentabilidade
19-11-2024 10:15
Na semana em que decorre a COP29, a conferência global da ONU sobre mudanças climáticas, a Católica Lisbon divulgou o 3.º relatório anual do Observatório para os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) nas empresas portuguesas, um projeto considerado pela ONU como um dos 25 melhores projetos mundiais na academia alinhados com a agenda de desenvolvimento sustentável. Acreditando que as empresas têm um papel crucial na prossecução dos ODS e que a sustentabilidade é a maior oportunidade de negócio do nosso tempo, o Observatório recolhe informação sistemática das 60 maiores empresas portuguesas e de uma amostra de mais de 130 pequenas e médias empresas (PME) exportadoras sobre o alinhamento das estratégias empresariais com os ODS. O relatório partilha também boas práticas nas estratégias de sustentabilidade, ilustrando e explicando como as empresas podem lucrar ao responder aos desafios da sustentabilidade.
Este 3.º relatório conclui que aumentou em 2023-2024 o alinhamento estratégico das empresas portuguesas com a sustentabilidade, em particular das grandes empresas, sendo que o "gap" entre estratégia e implementação se reduziu, embora as empresas considerem que a linguagem dos ODS está um pouco distante da linguagem empresarial. As motivações económicas de reforçar a liderança no setor e desenvolver novas oportunidades de negócios assumem maior importância para as grandes empresas, enquanto as PME começam a olhar para a sustentabilidade também como forma de atrair e reter talento. O relatório identifica ainda 40 boas práticas empresariais em praticamente todas as áreas da sustentabilidade, iniciativas inovadoras que alinham a sustentabilidade ao negócio. As empresas mais alinhadas com a sustentabilidade escolhem alguns ODS em que podem ter uma contribuição significativa, privilegiando uma estratégia focada. Todas as conclusões e boas práticas identificadas pelo Observatório estão disponíveis em https://www.observatorio-ods.com.
O relatório aborda também o desafiante contexto global atual para a prossecução dos objetivos da sustentabilidade. O ano de 2023 foi o mais quente de sempre no planeta, com um aumento da temperatura média a roçar o limite de 1,5 graus acima do período pré-industrial. Já é praticamente certo que 2024 será ainda mais quente e romperá esse limite definido para 2100 no Acordo de Paris. Ironicamente, na altura em que o planeta atinge recordes sucessivos de temperatura e os efeitos do aquecimento global são cada vez mais visíveis em fenómenos climáticos extremos, é precisamente a altura em que se assiste a um retrocesso nas políticas de sustentabilidade de governos e grandes empresas, em particular no setor da energia e em particular fora da Europa.
O aprofundar das tensões geopolíticas globais, levando a um redobrado foco na segurança energética, tem mantido elevada a procura e preço das fontes de energia baseadas no carbono, criando incentivos à sua contínua exploração e comercialização. Adicionalmente é expectável uma inversão da estratégia energética dos EUA durante a presidência Trump, que privilegiará a exploração de energias poluentes, tendo o futuro presidente escolhido um secretário de Estado da Energia que foi um dos principais líderes da indústria de "fracking" na América. Adicionalmente, não podemos esquecer a componente social da sustentabilidade, pois se os cidadãos estiverem mais preocupados com a sobrevivência de curto prazo e a segurança não estarão disponíveis para aceitar custos e sacrifícios em prol do futuro.
Perante este cenário, a Europa terá que carregar quase sozinha nos próximos anos o combate ao aquecimento global e à redução da emissão de gases com efeito de estufa. Para tal, a Europa deve estar unida e forte na sua estratégia, até porque a presidência Trump só irá respeitar os parceiros fortes e aproveitar-se-á dos países fracos ou blocos divididos.
A Europa precisa de se focar no objetivo da descarbonização como prioritário e aumentar a integração do seu mercado energético de forma a aproveitar todo o potencial das energias renováveis do sul da Europa e costa atlântica. Aproveitando a informação obrigatória que as empresas reportarão a partir de 2025 sobre a sua pegada carbónica, a UE deve taxar os produtos e serviços produzidos com elevada intensidade carbónica, de forma a não prejudicar a competitividade das empresas europeias que estão obrigadas a critérios ambientais mais exigentes. Isso permite criar um sistema mais justo que incentive as empresas a investirem na sustentabilidade para acederem a um mercado desenvolvido com 450 milhões de pessoas.
As receitas dessas taxas carbónicas devem ser utilizadas para financiar a transição energética em setores ou países com maior dificuldade económica. É fundamental usar mecanismos económicos para corrigir as externalidade crescentes das emissões de carbono e usar receitas de impostos sobre o carbono para promover uma transição energética justa e inclusiva.
Pela nossa parte, a Católica Lisbon assume um compromisso inabalável com a sustentabilidade e com a prosperidade da sociedade portuguesa. Através do Observatório para os ODS nas empresas portuguesas de- senvolvido pelo Center for Responsible Business and Leadership, continuaremos a trabalhar no alinhamento entre a estratégia empresarial das empresas portuguesas e os desafios e oportunidades dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Através do Center for Sustainable Finance continuaremos a capacitar os gestores portugueses para os desafios do ESG, estudar os impactos financeiro das mudanças climáticas e procurar organizar o sistema financeiro para melhor responder aos desafios da sustentabilidade. Através do Yunus Social Innovation Center continuaremos a capacitar o ecossistema nacional de inovação social para que a sociedade portuguesa encontre respostas replicáveis sistémicas para os problemas estruturais que defronta. Continuaremos a trabalhar através do Center of Economics for Prosperity em prol de melhores evidências científicas e melhores políticas económicas e públicas. E continuaremos a alertar a sociedade portuguesa através de pactos mobilizadores com as empresas, para temas muitas vezes esquecidos mas que irão definir o nosso futuro coletivo, como a gestão da água, a saúde mental ou a demografia. Este é o nosso compromisso - ser um forte aliado das empresas para colocar o melhor conhecimento, inovação e propósito na resposta aos desafios da sustentabilidade.
Uma nota final de parabéns à Universidade Católica Portuguesa que recebeu no WebSummit o galardão da Startup Portugal de universidade mais empreendedora de Portugal, com mais de 400 antigos alunos fundadores de startups relevantes, um número muito superior quando comparado com universidades portuguesas muito maiores e que ficaram atrás no pódio. Parabéns também ao Católica Lisbon Entrepreneurship Center que continua a acelerar os projetos de startup dos alunos e recém-graduados, contribuindo para estes excelentes resultados. E parabéns à nossa graduada Ana Catarina Gaspar que recebeu o prémio do Banco de Portugal de melhor tese de Mestrado do país em 2023-2024 sobre Economia Portuguesa.
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