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Ir para além do óbvio
18/11/2024 23:00

O país tem por estes dias discutido os problemas da saúde e o papel da ministra na organização de um Serviço Nacional de Saúde (SNS) gerido com pouca eficiência e muito corporativismo. As mortes que têm vindo a público merecem uma explicação cabal do Governo, há responsabilidades que devem ser assumidas, mas a discussão dos problemas no setor da Saúde não se podem esgotar no imediatismo político.


Já se percebeu que forçar a saída do anterior CEO do SNS não foi uma boa decisão. Ainda assim, e longe de querer desvalorizar a inoperância do atual Governo, mas enquadrando-a num contexto mais alargado de debilidades governativas e a falta de capacidade de decisão que se arrastam há anos, os problemas no setor da saúde são bem mais extensos e obrigam a uma discussão que vai além da mera questão salarial.


Há um problema de recursos na Saúde: é claro para todos que faltam médicos e enfermeiros, tendência que se agravará à medida que mais pessoas sigam para a reforma. Os números tornados públicos esta semana pela OCDE sublinham o óbvio: "a mão de obra europeia no setor da saúde enfrenta uma grave crise". Portugal não escapa a esta tendência e está entre o grupo de países que para manter ou aumentar a oferta de médicos prolonga a sua vida profissional. Um paliativo, portanto...


Com o envelhecimento populacional, a necessidade de cuidados de saúde colocará uma maior pressão sobre o setor, que sem mais profissionais não conseguirá dar resposta à procura. Por causa de uma espécie de lógica corporativista, limita-se em demasia, desde há um largo período de tempo, o número de vagas nas faculdades de medicina. Protegem-se os salários dos profissionais deste setor, é certo, mantêm-se as mesmas lógicas do passado, mas não se serve a população.


É legítima a contestação ao Governo - tal como seria ao anterior se as falhas que têm sido tornadas públicas tivessem sucedido -, mas deve haver coragem para abrir uma discussão mais alargada sobre o tema, desprendido de amarras ideológicas e que aprofunde o debate para além do óbvio.

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