Marques Mendes: "Manuel Pizarro será o candidato" do PS à câmara do Porto
10-11-2024 20:44
A VITÓRIA DE TRUMP
1. Não me surpreende a vitória de Trump. Só me surpreende a dimensão da vitória, face ao que diziam as sondagens. Esta é uma vitória relativamente fácil de explicar.
· Primeiro, a economia. Esta foi provavelmente a razão decisiva da vitória. Não a única, mas a mais importante. O facto de Trump ter um crescimento eleitoral transversal só tem uma leitura: as pessoas valorizam mais a economia que a democracia. Nunca ninguém ganha eleições quando há uma má perceção sobre o estado da economia. É que a economia toca o bolso de todos.
· Segundo, o mérito de Trump. Com todos os seus defeitos, ele teve o mérito de federar o descontentamento e de centrar a sua campanha nas duas questões que mais incomodam os americanos: economia e imigração.
· Terceiro, o demérito dos adversários. Demérito de Biden que teve uma Administração altamente impopular (72% dos americanos contra o seu governo). Demérito de Kamala que, enquanto vice-presidente, falhou no controlo da imigração. Demérito do Partido Democrata que há anos perdeu as camadas trabalhadoras e as causas populares. Fala às elites. Não fala ao povo.
2. O futuro, agora. A vitória de Trump não é o fim do mundo. Em democracia não há fim do mundo. Mas o que aí vem não vai ser bom.
· Trump vai ter uma presidência mais "musculada" que a anterior. Tem mais profissionalismo, mais experiência e sobretudo mais poder. Um poder quase absoluto. E vai usá-lo.
· Os Democratas vão ter uma séria travessia no deserto. Precisam de refletir e mudar de vida. Como não é possível mudar de povo, o melhor é mudarem as causas e o modo de fazer política.
O QUE VAI MUDAR COM TRUMP?
1. A grande vítima desta eleição é a Europa. A Europa vai sofrer consequências em três planos: na economia, na segurança e no clima.
· O maior problema está na economia. Regressa o protecionismo, com mais tarifas alfandegárias. Exportar para os EUA vai ser mais difícil. E o mercado norte-americano é o principal destino das exportações da UE. As empresas portuguesas também vão sofrer. Os EUA são o 4º destino das nossas exportações. O principal fora da Europa.
· O segundo grande problema é a segurança. Primeiro, no enfraquecimento da causa da Ucrânia. Segundo, no financiamento da NATO. A Aliança Atlântica não vai acabar. Mas os europeus vão pagar mais para a NATO. Incluindo Portugal.
· O terceiro problema é o clima. A descarbonização da economia vai ter um recuo. Com Trump, os EUA vão sair do acordo de Paris. Faltará depois saber se haverá outros países a acompanhar os EUA nessa decisão. Um retrocesso que afeta a Europa e o mundo.
2. Neste quadro, pergunta-se: o que vai fazer a Europa? Ninguém sabe.
· A Europa está numa encruzilhada. A prova está nesta frase de Enrico Letta, o ex-PM de Itália: "Se não atuarmos, a UE acabará a discutir se quer ser uma colónia chinesa ou norte-americana".
· A Europa tem de fazer o que há anos adia: reganhar autonomia estratégica: na economia, na tecnologia e na defesa. Se não, fica "entalada" entre a ameaça chinesa e o abandono americano.
· Para já, porém, só más notícias: a Europa está sem liderança política. O eixo franco/alemão gripou. E a Alemanha entrou em crise política, com o risco de eleições antecipadas.
A GREVE DO INEM
1. O que aconteceu com o INEM é inqualificável. Ninguém andou bem. Todos negligenciaram o que nunca deviam ter negligenciado.
· Primeiro, andou mal o Sindicato. Esta greve nunca devia ter existido. Claro que é legal e é um direito. Mas é uma greve imoral e desumana. Deviam ter sido utilizadas outras "formas de luta".
· Segundo, andou mal a Direção do INEM. Primeiro, devia ter alertado a Ministra para a situação. Depois, devia ter assegurado a existência de serviços mínimos. Era absolutamente essencial. Foi uma negligência grave do Presidente do INEM.
· Terceiro, andou mal o Ministério da Saúde. Tenho o maior respeito pela Ministra da Saúde: é uma pessoa de caráter e bem formada. Mas, aqui, infelizmente, não andou bem. A reunião que fez com o Sindicato já no decurso da greve, e que levou à sua desconvocação, foi eficaz. Mas devia ter sido feita antes. Nos dez dias que passaram entre o pré-aviso de greve e o seu início. Teria feito toda a diferença. Evitava-se a greve e podiam evitar-se algumas mortes. Não se consegue perceber e ainda ninguém explicou. Prevenir é sempre melhor que remediar.
2. O preço político a pagar por tudo isto é maior do que se pensa: um grande desgaste do governo. Na semana passada houve uma falha séria no MAI; esta semana foi no Ministério da Saúde. Num e noutro caso eram falhas evitáveis. Num e noutro caso, o PM teve que servir de bombeiro. Nada disto é motivo de remodelação. Ninguém faz uma remodelação ao fim de seis meses de governo. Provavelmente só por ocasião das autárquicas. Mas, se estas falhas se repetirem, isso traduz-se num desgaste enorme para o Governo. Sobretudo para o PM. O problema não se resolve com demissões. Resolve-se cometendo menos erros políticos. Porque estes casos são erros políticos e não de comunicação.
COSTA CONTRA PEDRO NUNO
1. Por causa das eleições americanas, passou relativamente despercebido um facto político relevante: um artigo de opinião de António Costa subscrito também por José Leitão e Silva Pereira, censurando as recentes declarações do Presidente da CM de Loures.
· Formalmente, o artigo era contra Ricardo Leão. E ele até se demitiu. Mas, em boa verdade, ele era o pretexto. O artigo era mesmo contra Pedro Nuno Santos. O líder do PS "segurou" Ricardo Leão. António Costa aproveitou a oportunidade para o criticar, vingando-se de Pedro Nuno, dos problemas que ele lhe criou no passado e minando-lhe a autoridade de líder do PS. O ex-PM é conhecido por não perdoar.
· Mas fica muito mal a António Costa este comportamento. Ele, que já está nomeado Presidente do Conselho Europeu, não devia ter-se envolvido numa guerra partidária. Ele devia estar acima disso. Acima das questões partidárias. Acima das tricas políticas. Alguém com sentido de Estado não tem este tipo de comportamento.
2. O atual líder do PS percebe, mas desdramatiza. Pedro Nuno Santos está agora focado nas eleições autárquicas. E está a acelerar o processo. Uma das provas é a CM do Porto. Havia três nomes em avaliação: Pizarro, Fernando Araújo e José Luís Carneiro. A decisão está tomada.
· Manuel Pizarro será o candidato a Presidente da Câmara. Só falta formalizar o que já está decidido. Fernando Araújo deverá ser anunciado mais tarde como nº 2 da lista à Câmara. E não é de excluir que Elisa Ferreira venha a ser candidata à Assembleia Municipal. Ela que em breve deixará de ser Comissária Europeia.
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