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Nova onda de transformação no setor agroalimentar
16-02-2024 14:00

O setor agroalimentar está a passar por uma transformação significativa, impulsionada por inovações tecnológicas, mudanças nas preferências dos consumidores e a necessidade crescente de práticas sustentáveis. Nesta desafiante tríade, a aposta e investimento na inovação parece transversal a todos os reptos, ajudando a que, na última década, Portugal tenha reduzido, segundo o Governo, em cerca de 400 milhões de euros o seu défice alimentar, com as exportações do setor agroalimentar a crescerem em média 5% por ano. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2022, a indústria agroalimentar ultrapassou os 8,5 mil milhões de euros de exportações, um crescimento de 19,75% face a 2021.

Dados mais recentes mostram ainda que as exportações portuguesas de produtos alimentares e bebidas alcançaram os 6071 milhões de euros nos primeiros dez meses de 2023, o que traduz um crescimento de 5,77% face a igual período homólogo de 2022. Ainda de acordo com o INE, o setor representa 3,31% das exportações portuguesas.

Os desafios do setor

A inovação tornou-se assim indispensável na nova onda de transformação digital no setor agroalimentar. Sem ela, ressalva o relatório "Food trends in Agritech and FoodTech in 2023", elaborado pela Fundação Europeia para a Inovação e Aplicação da Tecnologia (INTEC) e pela Minsait, as empresas do setor estão condenadas a estagnar e a perder competitividade num cenário marcado pela incerteza, mas também pela entrada de novos atores e pela mudança de hábitos de consumo.

É a capacidade de fornecer soluções tecnológicas de alto valor para a cadeia agroalimentar que transformará as capacidades deste setor tornando-o cada vez mais sustentável e competitivo. Pedro Moura
Responsável da Unidade de Phygital, da Minsait em Portugal
"A transformação digital e sustentável é uma alavanca básica para responder aos desafios de forma inteligente, sustentável e inclusiva. É a capacidade de fornecer soluções tecnológicas de alto valor para a cadeia agroalimentar que transformará as capacidades deste setor tornando-o cada vez mais sustentável e competitivo", refere Pedro Moura, responsável da unidade de Phygital da Minsait em Portugal.

O relatório Agri-Food Trends identificou alguns desses desafios que já estão a marcar o ritmo do mercado global e que serão fundamentais para o crescimento de uma indústria cada vez mais necessária no futuro. Em primeiro lugar, as alterações climáticas e a intensificação de fenómenos naturais adversos estão a afetar o rendimento das culturas e, de um modo geral, todos os aspetos da produção alimentar, agravando o problema da escassez de água. As novas tecnologias incluem sistema de rega inteligente, a reutilização da água na economia circular e a regeneração de águas residuais, lamas e resíduos. Tecnologias como a Inteligência Artificial (IA) permitem a monitorização e a previsão do clima, atenuando os impactos de fenómenos meteorológicos extremos, como secas, granizo e inundações. No âmbito energético, a tecnologia de produção de energia está a desenvolver-se rapidamente ao nível das energias renováveis, como a eólica ou a solar fotovoltaica, e o fornecimento de soluções para comunidades energéticas inteligentes, gestão de redes e eficiência energética são agora insubstituíveis.

Evolução "excecional"

A PortugalFoods, associação do setor agroalimentar português, não tem qualquer dúvida de que o setor agroalimentar tem tido uma evolução excecional nos últimos 20 anos. Partindo de um setor tradicional, eminentemente de cariz familiar e pouco sofisticado, a organização classifica-o hoje como "reconhecidamente moderno e competitivo, com um peso importante na economia nacional", ilustrou Deolinda Silva, diretora-executiva. Aqui, ressalva, a inovação é com certeza um dos fatores que mais contribui para esta transformação. "Só empresas que acompanham a evolução do mercado e do comportamento do consumidor podem estar nos mercados externos e apresentar valores de exportação como os que vamos evidenciando nos últimos anos".

A PortugalFoods, entidade agregadora e que constitui um ecossistema colaborativo, tem precisamente o papel de criar sinergias que potenciem a inovação na indústria agroalimentar. "Desde o QREN ao Portugal 2020 e agora, como se espera, no Portugal 2030, a aposta na criação de consórcios de empresas inovadoras, com entidades do sistema científico e tecnológico tem sido catalisadora de grandes projetos de investigação e desenvolvimento, que marcam o ritmo da inovação no setor". A executiva destacou o primeiro grande projeto mobilizador - MOBFOOD -, que reuniu 43 empresas e investigadores, que entre 2017 e 2022 responderam a desafios lançados pela indústria em três grandes áreas: segurança alimentar e sustentabilidade, alimentação para a saúde e bem-estar, e alimentos seguros e qualidade. Já o segundo projeto mobilizador - cLabel+ - Clean Label Food, reuniu 10 empresas e 10 universidades para desenvolver alimentos inovadores "clean label" naturais, nutritivos e orientados para o consumidor.

As agendas mobilizadoras, além dos importantes resultados dos projetos, permitem novas sinergias entre as entidades que extravasam para novas colaborações e para uma inovação cada vez mais colaborativa. Deolinda Silva
Diretora-executiva da Portugal Foods
"São estas iniciativas que, muito para além dos importantes resultados dos projetos, permitem novas sinergias entre as entidades que extravasam para novas colaborações e para uma inovação cada vez mais colaborativa". Uma situação que permitiu, por exemplo, reunir um importante grupo de empresas e de entidades de I&D que constituíram um Pacto de Inovação para o setor agroalimentar, através da Agenda Mobilizadora VIIAFOOD, no âmbito do PRR. "Esta Agenda irá ter um impacto na economia através de um investimento total de 113 milhões de euros, em Inovação Produtiva e I&D entre 2021 e 2025", referiu Deolinda Silva ao Jornal de Negócios.

Indústria colaborativa

A importância da inovação na estratégia da PortugalFoods para o setor está também demonstrada quando abraçou o desafio, lançado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, de, com um conjunto de empresas e de universidades, criar o Colab4Food - Laboratório Colaborativo para a Inovação da Indústria Agroalimentar, que após três anos de funcionamento dispõe de uma equipa de recursos humanos qualificados para responder aos desafios científicos e tecnológicos, da indústria alimentar e de bebidas. "2024 e 2025 serão anos de lançamento de vários projetos estruturantes, destacando um grande projeto cujo objetivo será promover a mobilização do setor para a sustentabilidade, como driver de negócio. Será um grande desafio que terá uma forte componente de sensibilização e capacitação para as temáticas do ESG".

Assumindo que os incentivos financeiros ou fiscais têm um papel fundamental na transformação do setor, a PortugalFoods destaca os apoios que impactam fortemente o setor pela dimensão dos consórcios e dos apoios, como é o caso de Projetos Mobilizadores e dos Demonstradores, mas também apoios estruturantes como os Núcleos de I&D em Copromoção que permitem criar ou estruturar departamentos de I&D nas empresas que querem apostar na inovação para desenvolver novos produtos, processos ou serviços. "Os apoios têm tido um grande impacto na evolução da economia, mas para potenciarem e acelerarem o seu impacto, deveria existir um real investimento das entidades gestoras e organismos intermédios que gerem estes apoios na desburocratização e simplificação dos processos de acompanhamento e monitorização dos projetos".

Casa Mendes Gonçalves: inovar em forma de molho

Os exemplos de inovação neste setor são vastos e, sobretudo, diversificados. A Mendes Gonçalves, fundada em 1982 por Carlos Mendes Gonçalves na Golegã, Portugal, começou com uma inovação singular: o vinagre de figo. Este produto refletiu desde o início o DNA da empresa - a vontade de fazer diferente e de valorizar os recursos locais. Com um percurso marcado pela inovação, a empresa cresceu e diversificando o seu portfólio para incluir uma vasta gama de molhos e condimentos, sob marcas como Paladin, Sacana, Peninsular, Dona Pureza e Creative. A empresa destaca-se não só pelos seus produtos inovadores, como a Maionese do Mar Paladin e o Piripíri Sacana com Cannabis, mas também pelas suas práticas industriais avançadas e compromisso com a sustentabilidade.

Delta inova com café de pernas para o ar

A máquina RISE da Delta virou o mercado do café ao avesso. Literalmente, já que incorpora um sistema de extração de café invertido, uma inovação tecnológica mundial que desafia a gravidade. O sistema Reverse Injection System Experience chegou ao mercado e a marca não fez por menos: convidou o criador francês Philippe Starck para criar o design da nova máquina doméstica da marca que se tornou na única no mundo a ter um café injetado debaixo para cima, pelo fundo da chávena, "o que intensifica o paladar e os aromas naturais do café e traz ao de cima um creme persistente, mantendo a temperatura ideal, e proporcionando um expresso superlativo", garante a marca. Fruto de um trabalho de investigação e desenvolvimento tecnológico, onde se incluem mais de 20 patentes, o ecossistema RISE assenta, diz a Delta, em três pilares fundamentais: inovação, design e expresso, que ajudam a explicar a disrupção que o sistema traz para a categoria de café em cápsulas. "Esta é a grande inovação Delta Q depois da cápsula e com ela queremos virar o mundo ao contrário", sublinhou no lançamento o CEO do Grupo Nabeiro, Rui Miguel Nabeiro.

Candidaturas abertas As candidaturas ao Prémio Nacional de Inovação estão divididas em dois grupos de categorias: Tecnologias, relacionado com a temática da inovação, seja nos processos, tecnologias, ou noutros âmbitos de atuação das empresas e Segmento de Negócio, relacionado com o setor de atividade da organização.

Além dos prémios atribuídos em cada uma das categorias, serão ainda entregues quatro prémios - três por dimensão da organização (Grande Organização, PME e Startup) e o Prémio Personalidade.

O Prémio Nacional de Inovação é uma iniciativa promovida pelo Jornal de Negócios, BPI e Claranet, que conta a Galp como patrocinadora, a ANI - Agência Nacional de Inovação e a COTEC Portugal como parceiros institucionais, e a Nova SBE como knowledge partner.

Mais informações em www.premionacionaldeinovação.pt

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