Luís Marques Mendes: "França ficará agora politicamente ingovernável" 07-07-2024 21:44:09

 ELEIÇÕES EM FRANÇA

 

  1. Aparentemente a Frente Popular ganhou as eleições. O que prova, em primeiro lugar, que a decisão de convocar eleições, transformadas em referendo, foi um erro colossal para Macron: ele pensava ganhar e acabou a perder; o seu partido era poder e deixa de ser; o governo de centro moderado que a França tinha acabou; e a esquerda radical fica com um poder político que nunca imaginou ter. Para combater um radicalismo, a direita radical, Macron sacrificou a moderação e potenciou um radicalismo de sentido contrário.
  1. A França ficará agora politicamente ingovernável: ninguém terá maioria absoluta para governar. E qualquer governo vai ser precário e provisório. É certo que todos cantarão vitória, mas é tudo muito relativo.
  1. Socialmente, a França vai ficar pior do que já estava: um barril de pólvora; em clara rutura social; um país literalmente dividido ao meio. Com o Brexit muitos investidores mudaram-se de Londres para Paris. Se a esquerda radical fizer governo, os investidores farão o caminho inverso: sairão de França para o RU ou para outros Países.
  1. O Presidente ainda vai pensar que no meio deste caos emerge como o fiel da balança e o garante da estabilidade. Mas isso é pura ficção. Ele está sem autoridade política: porque foi derrotado; porque está muito fragilizado; porque cada vez mais é visto como um ativo tóxico.

 

COSTA E CARGOS EUROPEUS

  1. Com o almoço desta semana entre Luís Montenegro e António Costa encerrou-se o debate em Portugal sobre a eleição do ex-primeiro-ministro para o Conselho Europeu. Como já disse repetidamente, esta escolha é boa para a Europa e boa para Portugal.
  1. Mas há um tema, não menos importante, de que quase nunca se fala entre nós e que é de vital importância para a defesa dos interesses nacionais na Europa: é que Portugal está sub-representado ao nível dos cargos europeus. Tem poucos cargos de topo ao nível da estrutura da Comissão Europeia. Vejamos:
  1. Estamos manifestamente sub-representados na Comissão Europeia. O que não é nada bom. Afinal, os burocratas de Bruxelas mandam muito, influenciando fortemente as decisões da União Europeia. Aqui está um tema a merecer a atenção do governo e da nossa diplomacia. Até porque o Ministro Paulo Rangel tem uma especial sensibilidade nesta matéria.

 


O "PACOTÃO" DA ECONOMIA
 

  1. É um programa ambicioso, exigente e bem estruturado. Para já, no que tem de mais concreto, há dois aspetos que merecem destaque:
  1. É essencial acelerar a economia para criar novas oportunidades e estancar o drama da emigração. A este respeito, numa conferência promovida pela Associação BRP, foram divulgados números brutais sobre a nossa emigração:

POLÍCIAS E VENTURA

  1. Comecemos pelos factos. Este assunto é um grande berbicacho. Digo-o desde antes das eleições. Se não fosse, António Costa tinha-o resolvido. A verdade é que não só não o resolveu como foi ele que criou o problema: resolveu a situação da PJ mas adiou a equivalência na PSP e GNR. Este é o erro original deste processo. E tudo porquê?
  1. A seguir, temos a política. Neste caso, a tentativa do Chega de instrumentalizar os policias. André Ventura é um líder inteligente e cheio de talento. Mas teve mais um erro e mais um flop.

 

CRISE NO ORÇAMENTO?

  1. Temos três questões distintas: o ruído; a realidade; e, no final, o Orçamento do Estado (OE) aprovado.
  2. Temos muito ruído e ainda vamos ter mais. O Governo dirá que, se houver crise, a culpa é do PS. O PS responderá que a responsabilidade é do Governo. Este passa-culpas é normal: faz parte da encenação política e anima a bolha político-mediática. Mas é preciso dar um grande desconto a esta conversa: ninguém quer crise e não vai haver crise.
  3. Depois, temos a realidade: Montenegro e Pedro Nuno vão negociar o OE para 2025. Nenhum dos dois tem alternativa.
  1. No final, teremos OE aprovado. Passou despercebido, mas o primeiro sinal de vontade de aprovação foi dado esta semana: o governo não incluirá a descida do IRC no OE. Para não contaminar as negociações com o PS. A medida surge à parte e será aprovada com o Chega.

 

BIDEN VAI DESISTIR?

  1. Depois do desastre de Biden no debate com Trump, os democratas americanos estão aflitos e com razão. Só que qualquer solução tem tudo para correr mal: se Biden desistir, já não há tempo para escolher um novo candidato, consensual e ganhador- soa a remendo; se Biden se mantiver na corrida, o risco de derrota é cada vez maior. A idade não perdoa.
  1. Tudo corre a favor de Trump. E, todavia, a sua eleição, se acontecer, será uma calamidade perfeita.
  1. Salva-se no meio disto a vitória trabalhista no Reino Unido. Seja-se socialista ou não, saúda-se o facto de ser uma vitória da estabilidade e da moderação. E saúda-se a eficácia da democracia britânica: na quinta-feira houve eleições e no dia seguinte já havia governo. Um exemplo notável. Quanto aos Conservadores "pagaram" pelo desastre: primeiro, o Brexit; depois, a falta de decência na governação; por fim, a falta de resultados.
  1. Uma reflexão final. Nós, portugueses, queixamo-nos dos nossos problemas domésticos. Com razão. Mas, como se vê, é tudo muito relativo. Não somos nenhum oásis. Mas estamos muito longe da calamidade que se instalou em França e que se pode instalar nos EUA.