FMI: Desconexão entre mercados e economia real aumenta risco de nova derrocada 25-06-2020 14:55:00

A desconexão entre os mercados e o mundo real aumenta o risco de outra correção dos preços dos ativos, o que deverá precipitar uma fuga dos investidores aos ativos de maior risco, travando assim uma recuperação mais célere. Esta é uma das conclusões inscritas no relatório de estabilidade financeira global do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado nesta quinta-feira. De acordo com a entidade liderada por Kristalina Georgieva, a diferença entre os preços dos ativos nos mercados e a avaliação dos fundamentais económicos está perto de máximos históricos nas maiores economias do mundo. "Nos mercados de ações, os períodos de 'bear' (quando os ativos caem mais de 20% face ao último pico em alta) ocorreram antes e durante períodos de siginficativa pressão económica", com uma recuperação ténue consequente, pode ler-se no relatório. Mas nesta altura, o abismo que se vive entre o mundo bolsista e o mundo real é evidente. Mesmo com a atual pandemia, que ainda não deu tréguas, com uma recessão histórica, com a permanente guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo e com a revolta popular na sequência do homicídio de um homem aos joelhos de um polícia, as bolsas em todo o mundo continuam em alta. Nos Estados Unidos, O Nasdaq Composite voltou a renovar máximos históricos e já leva um ganho acumulado neste ano superior a 10%. Também o norte-americano S&P 500 já conseguiu obter um saldo positivo em 2020, apesar de ter voltado a recuar. "O sentimento 'bullish' entre os investidores apoia-se no forte apoio das políticas tomadas no meio de tantas incertezas sobre a estenção e a velocidade da recuperação económica. Os mercados parece estar a contar com uma rápica recuperação em 'V' da atividade, como ilustram as previsões dos ganhos das empresas do S&P 500", diz o FMI. Contudo, mostra o FMI que "os recentes dados económicos e indicadores, sugerem uma queda maior do que o esperado", como mostra o relatório de junho da entidade. As estimativas reveladas ontem por Georgieva apontavam para uma queda de 4,9% do PIB mundial este ano, bem pior do que a contração de 3% antecipada em abril. No caso da Zona Euro, a previsão do FMI aponta para uma quebra inédita de 10,2% no PIB dos países que partilham o euro, bem pior do que o antecipado em abril (-7,5%)."Isto cria uma divergência entre o preço do risco nos mercados financeiros e as previsões económicas, como os investidores aparentemente a apostarem num contínuo e sem precedente suporte por parte dos bancos centrais", refere a instituição no relatório, acrescentando que "esta tensão pode ser ilustrada, por exemplo, pelo recente 'rally' nos mercados de ações nos Estados Unidos, por um lado, e pela queda da confiança no consumo, por outro". 
A entidade criada em 1944, na conferência de Bretton Woods, mostra que "esta dissociação levanta questões sobre a possível sustentabilidade do atual mercado de ações".  Durante o primeiro trimestre deste ano, o novo coronavírus causou a queda mais repentina desde 1946, segundo a Allianz, nos mercados financeiros, tendo em conta a média de todos os anteriores onze "bear markets". Precisou apenas de 20 dias de negociação para tombar para o "território dos ursos". Mas se a queda foi célere, a recuperação para "bull market" não lhe ficou atrás: foram necessários apenas 11 dias. Nos 50 dias que se seguiram aos mínimos de 23 de março, o S&P 500 valorizou 39,3%, o que representa a maior valorização nesse mesmo intervalo de tempo desde 1952.