Facebook pagou a terceiros para transcrever conversas de áudio dos utilizadores 14/08/2019 14:47:00

O Facebook pagou a centenas de trabalhadores de empresas prestadoras de serviços para transcrever ficheiros de áudio de utilizadores dos seus serviços, de acordo com pessoas com conhecimento do assunto.
 
A atividade abalou os contratados, que não sabem onde o áudio foi gravado ou como foi obtido - apenas que devem fazer as transcrições disseram as pessoas, que pediram anonimato por medo de perder o emprego. Os trabalhadores ouvem conversas de utilizadores do Facebook, às vezes com conteúdo vulgar, mas não sabem por que o Facebook precisa desse conteúdo transcrito, disseram.
 
O Facebook confirmou que estava a transcrever o áudio de utilizadores e disse que não o faria mais, devido às investigações sobre essas práticas noutras empresas. "Assim como a Apple e o Google, suspendemos a análise humana de áudio há mais de uma semana", disse a empresa na terça-feira. A companhia afirmou que os utilizadores que foram afetados escolheram a opção no Messenger do Facebook para ter as suas conversas de voz transcritas. Os prestadores de serviços verificavam se a inteligência artificial do Facebook interpretava corretamente as mensagens, que eram anónimas.
 
Grandes empresas de tecnologia, como a Amazon.com e a Apple, têm sido criticadas por guardar partes de áudio de dispositivos de consumidores para que sejam revistos por outras pessoas, uma prática que, segundo críticos, viola a privacidade. A Bloomberg foi a primeira a relatar em abril que a Amazon tinha uma equipa de milhares de funcionários em todo o mundo a ouvir os pedidos feitos por comando de voz à assistente digital Alexa, com o objetivo de melhorar o software. Uma análise humana semelhante foi usada para a assistente Siri, da Apple, e para o assistente do Google, controlado pela Alphabet. Apple e Google já disseram que não vão dar continuidade à prática, enquanto a Amazon informou que permitirá que os utilizadores escolham se as suas gravações podem ser ouvidas por outras pessoas.
 
A gigante de redes sociais, que acaba de fechar um acordo de 5 mil milhões de dólares para encerrar uma investigação da Comissão Federal de Comércio dos EUA sobre as suas práticas de privacidade, negou por muito tempo que recolhia áudio de utilizadores para serem usados na publicidade ou ajudar a determinar o que as pessoas veem nos seus feeds de notícias. O presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, negou a prática em depoimento no Congresso.
 
"Está a falar sobre essa teoria da conspiração de que ouvimos o que está acontecer no seu microfone e usamos isso para anúncios" publicitários, disse Zuckerberg ao senador dos EUA Gary Peters, em abril de 2018. "Nós não fazemos isso."
 
Em respostas ao Congresso, a empresa disse que "acede apenas ao microfone dos utilizadores estes derem permissão na aplicação e se estiverem a usar ativamente um recurso específico que requer áudio (como mensagem de voz)." A empresa não aborda o que acontece com o áudio depois.
 
O Facebook não divulgou aos utilizadores que trabalhadores contratados especificamente para o efeito podem ouvir as suas conversas gravadas. Isso levou alguns deles a considerar o trabalho antiético.
 
Pelo menos uma empresa que está a analisar as conversas de utilizadores é a TaskUs, uma prestadora de serviços com sede em Santa Monica, Califórnia, com empregados em todo o mundo. O Facebook é um dos maiores e mais importantes clientes da TaskUs, mas os funcionários não podem mencionar publicamente para quem trabalham. Usam um código para o nome do cliente: "Prism".
 
O Facebook também utiliza os serviços da TaskUs para rever conteúdo que possa violar as políticas da empresa. Também há equipas da TaskUs que trabalham na preparação das eleições e na seleção de anúncios políticos, embora alguns desses funcionários tenham sido recentemente transferidos para a nova equipa de transcrição.
 
"O Facebook pediu à TaskUs para fazer uma pausa nesse trabalho há uma semana, e foi o que aconteceu", disse a TaskUs em resposta a um pedido de comentários sobre as transcrições.
 
O Facebook começou a permitir que utilizadores do Messenger tenham as suas conversas transcritas em 2015. "Estamos sempre a trabalhar em formas de tornar o Messenger mais útil", disse David Marcus, executivo que na altura era responsável pelo serviço.
  
Texto original: Facebook Paid Contractors to Transcribe Users’ Audio Chats