BCE leva Goldman a cortar avaliação de 32 bancos europeus. BCP é dos menos afetados 11/07/2019 12:59:00

O Goldman Sachs está convicto que o Banco Central Europeu (BCE) vai reduzir a taxa de juros dos depósitos. O cenário central aponta para uma redução de 20 pontos base, mas no limite admite que possa ascender a 100 pontos base – um cenário extremo. O banco de investimento avalia o impacto destes cortes nos resultados da banca e decidiu cortar as avaliações dos 32 bancos europeus que segue.
 
O BCP não é dos mais afetados, não se destacando em nenhum indicador. O preço alvo foi reduzido, mas numa proporção até inferior à média, mas o seu potencial de subida é limitado, não se encontrando, por isso, entre as "oportunidades" identificadas pelo Goldman.
 
Goldman: "Escalonamento torna-se crítico" 
"A política do BCE está prestes a mudar – os nossos economistas preveem mais cortes de juros, o regresso à compra de ativos e nenhuma subida de juros até 2021. Isto é negativo para os bancos da Zona Euro" e é por isso que "consideramos que um escalonamento ["tiering" - sistema de escalões nos juros dos depósitos, que varia consoante os montantes que os bancos depositam no banco central] é uma componente crítica" para um novo alívio da política monetária. "Sem isso, as preocupações para as perspetivas do setor vão aumentar", salientam os analistas.
 
O Goldman Sachs sublinha que um novo corte de juros representa algo "muito desconfortável" para o setor, apontando para que uma redução de 20 pontos base na taxas de juro dos depósitos implique uma queda de 6%, ou 5,6 mil milhões de euros, nos lucros dos 32 bancos europeus que são seguidos pelo banco de investimento. Neste cenário, "12 bancos enfrentam uma redução superior a 10% nos lucros por ação e cinco bancos superior a 20%", adiantam os analistas.
 
Corte de 20 pontos na taxa retira 8% dos lucros ao BCP
No caso do BCP, as previsões do Goldman Sachs apontam para que os lucros desçam 8%, caso o BCE avance com um corte de 20 pontos base, tendo em consideração as previsões de resultados para 2019. Nesta previsão, o BCP não é dos mais afetados, encontrando-se a meio da tabela. A instituição que sentirá o corte mais pronunciado nos seus lucros será o alemão Deustche Bank (42%), seguido pelo italiano Monte dei Paschi di Siena (37%).
 
Já o rácio do capital próprio tangível (ROTE) do BCP sofrerá um corte de 0,8 pontos percentuais. Neste caso, está entre os mais penalizados, sendo o sétimo – em ex-aequo com outras três instituições – com a maior descida.
 
Se os cortes nos juros foram ainda superiores, como por exemplo uma descida de 100 pontos base, "um quarto dos bancos terão prejuízos ou lucros zero e três quartos não cumprirão os seus custos de capital", antecipa o Goldman Sachs.
 
E é neste contexto que o banco de investimento considera "crítica" a introdução de um modelo que "modere o impacto de um aumento do corte de juros". Se o BCE "adotar o modelo suíço de escalonamento [dos juros – o chamado "tiering"] reduzirá o efeito negativo em cerca de um terço nas previsões" do Goldman.
 
Deutsche Bank pode passar do mais afetado para o maior beneficiado 
"Mesmo com um escalonamento, um corte de 20 pontos base é negativo para os lucros quando totalmente implementado", ainda assim poderá ter um "impacto neutral no curto prazo ou mesmo positivo" para alguns bancos, como o Deutsche Bank, o BNP e o ABN Amro.
 
Se houver um sistema de escalonamento, como o existente na Suíça, um corte de 20 pontos base teria um impacto nulo nos resultados do BCP. Já o Deustche Bank, que é o mais afetado pelo corte de juros, seria o mais beneficiado, com um impacto de 32% nos resultados.
 
Avaliação do BCP encolhe 3%Num ambiente em que se prevê corte de juros, e o seu consequente impacto na banca europeia, o Goldman reviu as suas avaliações, cortando, em média, 6% aos preços alvo das 32 instituições.
 
O BCP foi um dos menos afetados por esta revisão, com o seu preço alvo a encolher 3,2%, de 0,31 euros para 0,30 euros, o que confere às ações um potencial de subida de 5,9% face à cotação atual (0,2832 euros). A recomendação ficou em "manter".
"Ainda que o setor esteja subavaliado, os catalisadores - fusões e aquisições, políticas e macro – são difíceis", salienta, justificando assim a redução das estimativas para a banca. Mas há "três áreas de oportunidades", realça o Goldman – áreas essas onde o BCP não se inclui.
 
Assim, ao nível do retorno de capital destaque para o BNP, o ING, o KBC e o Natixis; ao nível da reestruturação o italiano Unicredit e no que respeita ao desconto a que negoceiam face à sua avaliação as apostas podem ser todos os bancos referidos anteriormente aos quais se junta o Santander.
Nota: A notícia não dispensa a consulta da nota de "research" emitida pela casa de investimento, que poderá ser pedida junto da mesma. O Negócios alerta para a possibilidade de existirem conflitos de interesse nalguns bancos de investimento em relação à cotada analisada, como participações no seu capital. Para tomar decisões de investimento deverá consultar a nota de "research" na íntegra e informar-se junto do seu intermediário financeiro.