Católica vê PIB português a recuar 0,5% no final de 2022, em contraciclo com Zona Euro
18/01/2023 15:01:21

Os economistas da Universidade Católica estimam que a economia portuguesa tenha recuado 0,5% no quarto trimestre do ano passado face aos três meses anteriores, em contraciclo com a Zona Euro, o que, a confirmar-se, implica que o PIB terá crescido menos no conjunto de 2022 do que as últimas previsões do Governo. 

Na Síntese da Folha Trimestral de Conjuntura, divulgada nesta quarta-feira, 18 de janeiro, os economistas da Católica, liderados por João Borges de Assunção, admitem que os dados do último trimestre do ano passado são "algo contraditórios", mas que a "melhor estimativa" aponta para uma contração em cadeia de 0,5%, o que corresponde a um crescimento de 2,4% em termos homólogos.

Assim, no quarto trimestre de 2022, "a economia portuguesa poderá ter operado em torno de 101,9% do nível pré-pandemia, relativo ao quarto trimestre de 2019". Ao mesmo tempo, a confirmar-se a contração do PIB no último trimestre de 2022, a economia portuguesa terá crescido 6,5% no conjunto do ano, abaixo da última estimativa anunciada pelo Governo (de 6,8%). Para que essa meta fosse cumprida, seria necessário um crescimento de 0,4% nos últimos três meses de 2022. Ainda assim, os 6,5% correspondem à meta de crescimento para 2022 revista e inscrita no Orçamento do Estado para 2023. 

Além disso, o desempenho da economia portuguesa no final do ano passado ficou aquém do da Zona Euro que, pelas contas dos economistas da Católica, deve ter crescido muito pouco (0,1%). Ainda assim, o núcleo de estudos (NECEP) considera o crescimento "surpreendente, já que, até há pouco tempo, parecia inevitável uma ligeira contração". No conjunto de 2022, a Zona Euro terá crescido 3,4%, "
crescido 3.4%, ainda sob o efeito do ressalto pós-pandemia que foi travado pela guerra na Ucrânia, pela subida dos preços da energia e por uma taxa de inflação anormalmente elevada (8,4%)", escrevem os economistas.

Depois de uma inflação média de 7,8% em 2022, o NECEP espera que a subida de preços abrande, mas que se mantenha ainda expressiva em 2023, estimando uma inflação de 6% este ano. 

Embora a política monetária do Banco Central Europeu (BCE) deva a contribuir para uma redução da inflação na Zona Euro e em Portugal, os economistas dizem que isso só deve acontecer "no limiar de 2024, dado que as taxas diretoras estão ainda no intervalo entre 2% e 2,75%". Por isso, alinham com o consenso dos economistas internacionais - e que já foi admitido também por Frankfurt - e admitem que o BCE deverá subir as taxas de juro de referência ao longo dos próximos meses.

"Desempenho frágil" em 2023

Perante o contexto de inflação elevada e subida das taxas de juro, o NECEP antecipa um "desempenho frágil" para a economia portuguesa este ano, estimando que cresça 0,5%. Mas este é o cenário central da estimativa, já que a previsão vai de uma contração de 1% até uma expansão de 2%. 

Depois de ter crescido apenas 2,1% em 2022, os economistas da Católica estão pouco otimistas quanto ao investimento, que vai apresentar uma "dinâmica fraca", apesar do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). "Outros fatores a observar são a evolução da inflação e das taxas de juro, bem como os limites ao crescimento do turismo", bem como os impactos no consumo privado, pela redução real do rendimento disponível, avisam.

O comportamento da Zona Euro, estimam, deverá ter um comportamento semelhante, com um crescimento de 0,7%, ligeiramente superior ao do PIB português. Mas as margens da estimativa vão até uma contração de 0,6% e uma expansão de 2%.

"Há o risco de uma recessão suave, mas esse não parece ser, ainda, o cenário mais provável", consideram os economistas.

A pesar no crescimento económico da Zona Euro estão a evolução da economia mundial, em particular, os desenvolvimentos nos EUA e na China que abandonou a sua política de Covid zero. "Os preços da energia, a inflação e a subida das taxas de juro permanecem como principais condicionantes da
evolução da economia, numa altura em que a guerra na Ucrânia não parece ser um fator adicional de pressão sobre a economia europeia", escrevem.