Combustíveis, água, luz e gás. O que se aprendeu com o apagão?
06/07/2025 16:30
"Não deixa de ser curioso. No dia em que faltou a luz, os combustíveis fósseis salvaram vidas". A constatação é do co-CEO da Galp, João Diogo Silva, lembrando que às 11h33 da manhã do dia 28 de abril a cúpula da petrolífera já estava reunida ao mais alto nível, numa "call" para apresentar os resultados do primeiro trimestre de 2025 aos investidores. Nesse exato momento, a rede elétrica falhou por completo em Portugal e Espanha, mas Maria João Carioca (a outra co-CEO) manteve a pose e continuou a responder a questões sobre as ambições para o petróleo da Namíbia. "Estávamos a falar com o mundo e de repente percebemos que alguma coisa grave estava a acontecer", lembra João Diogo Silva numa conferência da Associação Portuguesa de Energia, sobre as "Lições do Apagão".Terminada a chamada, as notícias sobre a Galp ficaram em "stand by" e a empresa acionou desde logo o seu comité de crise. A João Diogo Silva foi atribuído um turno de emergência até às três da manhã do dia seguinte, numa altura em que se pensava que o apagão podia durar vários dias. "Nenhum sistema é suficientemente robusto se não estiver preparado para falhar. É fundamental as equipas estarem preparadas para trabalhar em cenários de crise", refere o responsável, lembrando que desde muito cedo a Galp percebeu que tinha de dar resposta a uma corrida desenfreada dos portugueses às bombas, mas que também estavam em causa vidas humanas. "Tínhamos telefones por satélite, que foram distribuídos, conseguimos comunicar e recebemos várias chamadas. Rapidamente percebemos que a sensibilidade daquilo que estava em causa não era puramente manter a rede de abastecimento a funcionar, mas sim chegar a infraestruturas críticas que estavam a pedir auxílio a várias empresas ao mesmo tempo. A necessidade de articulação entre os serviços centrais e os vários agentes do setor foi uma lição importante nesse dia", frisou, recordando algumas decisões difíceis que tiveram de ser tomadas, como, por exemplo, encerrar algumas estações de serviço ao público e reservá-las para veículos de emergência, o que "criou ruído e uma tensão muito grande". Além disso, a Galp tinha ainda de se preocupar - e muito - com a única refinaria do país, em Sines, que abastece 90% do consumo nacional e que, também ela, ficou sem eletricidade para operar. "A refinaria está preparada para funcionar em ilha, porque dispõe de cogeração. Mas ligar e desligar uma infraestrutura crítica daquelas é um tema superdelicado. Tem de ser feito devagar", garante. No pós-apagão, o CEO diz que foi possível já aperfeiçoar e melhorar protocolos e processos internos. "Houve um processo de aprendizagem muito abrangente, que resultou num documento já enviado ao Governo, com cinco recomendações, que incluem uma melhoria na comunicação entre setores fundamentais, uma maior resiliência no abastecimento, garantida por geradores com armazenagem própria, e um aumento da capacidade de arranque autónomo da rede elétrica.""Não estávamos preparados para abordar esta situação de crise energética de forma integrada, nem como setor, nem com entidades externas e governamentais", reconhece o CEO, defendendo que a transição energética não deve ser drástica ou demasiado agressiva. "Precisamos de todas as energias e o apagão mostrou isso". Além da REN, uma das empresas que mais esteve debaixo dos holofotes no dia do apagão foi a E-Redes (pertencente ao universo EDP), enquanto operador das redes de distribuição de eletricidade. João Martins Carvalho, administrador da empresa, sublinha a "importância da cultura de preparação e de treino que temos de ter para estas situações". "Tudo o que a E-Redes faz está focado na garantia da continuidade da atividade e do negócio. Somos como os pilotos de avião. Treinamos para o caso de o avião cair, mesmo que nunca caia. E não é possível treinar tudo. Situações como a do apagão são totalmente inesperadas e muito pouco frequentes", garante. Neste momento, a E-Redes está já a trabalhar num plano de melhoria a vários níveis, para aumentar a resiliência das telecomunicações, garantir o acesso a mais geradores e definir prioridades na sua entrada em funcionamento, e redimensionar a capacidade das baterias. "Esta situação veio desafiar o limite do que achávamos razoável planear, e obrigar-nos a repensar algumas dessas situações, como garantir o acesso a combustível para os nossos geradores. Face à corrida às bombas que se verificou e à necessidade de racionamento, vamos também equacionar o estabelecimento de depósitos e reservas próprias", avançou João Martins Carvalho. Outra medida em curso passa por evoluir dos rádios normais ("walkie-talkies") para uma solução de rádio digital, para complementar as comunicações por satélite e a solução de voz normal.Além de ficarem sem luz e sem comunicações móveis, muitas pessoas ficaram também sem água nas suas casas no dia 28 de abril. Francisco Serranito, diretor da EPAL, explica porquê: "Como consequência imediata do apagão, ficámos sem algumas das principais estações elevatórias, sem duas estações de tratamento e sem captações de água. Sem poder recorrer a geradores, ficamos dependentes da água nos reservatórios, dos volumes em circulação nas condutas e da capacidade de os gerir", lembra o responsável, contando que a empresa ficou também ela própria sem comunicações e sem visibilidade face ao sistema de abastecimento de água. "Não só não conseguíamos monitorizar o que estava a acontecer, como não podíamos agir à distância a partir do centro de comando. A dificuldade foi colocar as pessoas na rua, sem forma de comunicar, e com acesso escasso a combustível para as viaturas e para os geradores", refere. Quanto a lições, a EPAL já tem em curso o investimento na implementação de um plano de autossustentabilidade energética, que se baseia na produção de energia hídrica, na instalação de unidades solares fotovoltaicas em várias instalações da empresa e ainda numa nova central eólica, que está em fase de lançamento do concurso e que será localizada na zona de Vila Franca de Xira. "A concretização e a entrada em funcionamento deste projeto irá dotar a EPAL de condições para responder muito melhor a falhas de energia de longa duração e, portanto, aumentar claramente a nossa resiliência e a capacidade de resposta", refere o diretor, admitindo também o reforço do número de geradores e unidades de UPS. Se houve algo que não faltou no dia do apagão nas casas com fogão a gás, foram refeições quentes, acabadas de fazer. Isto porque, ao contrário da rede elétrica - que ficou despida de eletrões -, nas redes de distribuição de gás natural em Portugal "as moléculas continuaram a fluir e não houve nenhuma interrupção do serviço aos clientes, sejam famílias ou indústrias", referiu, por seu lado, Gabriel Sousa, CEO da Floene. Tivesse o apagão durado mais tempo, o cenário poderia ter sido outro, mas não foi. "Face àquilo que aconteceu, efetivamente o sistema de gás não teve nenhuma falha de serviço", diz o responsável, dando conta da mobilização de alguns geradores para os quais também não faltou combustível. "Se a falta de eletricidade fosse maior, os sintomas poderiam ter sido diferentes". Pior mesmo foi enfrentar os problemas de comunicação e não conseguir falar com os meios que estavam no terreno. "De norte a sul de Portugal, em mais de 100 municípios, as pessoas tinham total noção do trabalho que tinham para fazer. As equipas organizaram-se, visitaram as estações de pressão que não conseguíamos operar à distância", explica Gabriel Sousa. Enquanto isso, em Lisboa, o conselho de administração da Floene estava reunido com os acionistas alemães e japoneses. Na reunião falou-se da importância das redes de distribuição de gás e de como estas devem evoluir para os gases renováveis, o que trará outros desafios, por via da produção e injeção descentralizada de biometano e hidrogénio verde.
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