Os presos e uma certa gentil flora
15/06/2025 10:00
D'Annunzio esteve mais tempo preso do que eu. Mas a prisão do escritor circense que era Gabriele D'Annunzio teve pergaminhos: cinco meses por ser amante da digníssima esposa de um nobre napolitano. E não falemos sequer do Marquês de Seda, perdão de Sade, despejado na Bastilha por sodomizar e envenenar cinco venais rameiras. O que mais se aproxima dos meus tormentos de cárcere foi o que aconteceu ao prolixo Honoré de Balzac: na tropa, provavelmente para se dedicar a um clandestino comércio amoroso, baldou-se à sua missão de sentinela. Preso por duas semanas: ora, amendoins! Eu não me baldei, escrevi. Escrevi a dizer não! Não vou, é que nem que Vossas Excelências fossem tenentes. Explico melhor: tinha ficado em Angola para ver e saborear o que era uma independência. Há, numa crónica de Nelson Rodrigues, uma jovem mulher tuberculosa que está a meio passo da morte. Tísica, magérrima. E é Carnaval. Pede à família, ao médico, para vir à rua - sabem que ela vai morrer, mas que vá. E ela, porque nunca tinha sido beijada, procura um beijo. O primeiro e o último beijo. Beija e morre. Eis o que eu queria: ver, apalpar, beijar uma independência. Fiquei. Pagaria caro a minha erótica perversão. Voltei a Portugal, situação militar irregular, porém amnistiado, e dirigi-me ao quartel da Graça. Reinspeccionaram-me. Um jovem médico sensibilizado com a minha miopia declarou-me inapto para a tropa. Passam-se três anos e recebo uma carta a convocar-me para a recruta em Mafra. Já eu e a Antónia, passada a fase da papa Nestum da última crónica, começávamos a ver a vidinha virar uma tão linda manhã. Convencidíssimo, mais do que Paulo depois do tombo na estrada de Damasco, de que a tropa era uma pessoa de bem, escrevi uma carta: "Queridos generais, devem ter-se enganado, estou inapto e a pagar a taxa." Com prosa de Belzebu, vem a tropa e diz-me: "Mancebo, houve um engano; tal como ninguém, nem Heraclito, se banha duas vezes nas mesmas águas de um rio, também ninguém pode ser inspeccionado duas vezes. Apresente-se!" Disse-lhes que não ia, viessem buscar-me. Vieram. Um jipe levou-me ao quartel-general, pernoita na Trafaria, ala para Coimbra e Viseu, com quatro soldados que paravam para beber copos comigo. Por fim, julgamento no tribunal militar de Coimbra. Levei advogado e amigos para testemunhar, um deles, monge beneditino, dizia aos soldados na audiência: "Rapazes, virem as G3 para os juízes, que eles merecem!" Mas a tropa não perdoa e fui condenado a três meses de prisão. Esperava-me a prisão de Tomar, onde viria a estar o Otelo. Acolhido em fraternidade pelos militares presos, ganhei logo galões: eu era "o professor". O director autorizou-me máquina de escrever e reservou uma sala para que redigisse os trabalhos finais de Filosofia. Convidavam-me, o oficial e o sargento de dia, para jantares melhorados. Era 1980: entre os presos havia quem tivesse descoberto ali a escova de dentes. Mas a verdadeira razão do apreço da população prisional era a minha capacidade de escrever ou melhorar as cartas às namoradas. E, sobretudo, cartas a pedir o envio de uma nota de dez, vinte escudos, a uma gentil flora feminina que escrevia aos presos com uma certa propensão para erotizar a reclusão, as grades e a rija abstinência. Antes quebrar do que torcer, levei até ao fim a minha recusa. Um velho sargento paciente e prático explicou-me, então, que "não é assim que se fazem as coisas: você vai lá com umas garrafas de Johnnie Walker, das pretas, e logo se resolve." Foi esse o fim prosaico da minha aventura militar.
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