ÚLTIMAS NO NEGÓCIOS.PT

Lisboeta regressa de Londres e cria "search fund" Audaz para fazer a compra da sua vida
14/06/2025 15:37

Nascido em Lisboa, em 1980, Filipe Bergaña cresceu no seio de uma família com forte espírito empreendedor. O avô, emigrado da Galiza no pós-Guerra Civil, abriu marisqueiras em Lisboa, enquanto os pais trouxeram de Paris o conceito de boutique de moda feminina, tendo sido pioneiros no retalho de luxo em Portugal.Filipe Bergaña licenciou-se em Economia pela Nova School of Business and Economics, tendo seguido para Madrid, onde trabalhou durante três anos na Merrill Lynch Investment Managers.Como a gestão dos portefólios estava centralizada em Londres, acabou por mudar-se para a capital britânica em 2006. Construiu uma carreira de duas décadas na gestão de ativos, tendo trabalhado em gigantes como a BlackRock e a Fidelity, antes de fundar a sua própria gestora, a W4i, ao lado do legendário investidor português Firmino Morgado, que foi seu mentor.Até que, há cerca de dois anos, este filho de pai espanhol e mãe portuguesa decide regressar às suas raízes com um propósito claro: "Empreender, aplicando no setor privado a mesma disciplina de investimento e criação de valor que aperfeiçoei no mundo das empresas cotadas", afirma Filipe Bergaña ao Negócios.Mudou-se com a família, mulher e quatro filhos, para Madrid, onde reuniu 18 investidores na criação do "search fund" Audaz Capital, um fundo de "até 30 milhões de euros" que tem como objetivo identificar, adquirir e gerir uma empresa privada na Península Ibérica.  O que é a Audaz Capital? A Audaz Capital é um veículo de investimento criado para responder a um desafio estrutural que afeta muitas PME na Península Ibérica: a renovação geracional. Há um número significativo de boas empresas familiares cuja continuidade fica comprometida pela ausência de sucessão natural, colocando em risco anos de crescimento e criação de valor.A Audaz reúne 18 investidores com vasta experiência estratégica, financeira e operacional, alinhados num horizonte de investimento de longo prazo. Entre os seus investidores contam-se fundos de investimento, "family offices" e investidores particulares, todos com um compromisso comum: assegurar a continuidade e o crescimento sustentável da empresa investida.Modelo de aquisição ainda bastante desconhecido em Portugal, o que é um "search fund"?Um "search fund" é um veículo de investimento concebido para identificar, adquirir e desenvolver uma empresa já estabelecida, acelerando o seu crescimento ou tornando-a mais eficiente. O objetivo é dar continuidade a negócios sólidos e rentáveis, que muitas vezes enfrentam desafios de sucessão, garantindo a sua evolução sustentável.Embora ainda relativamente desconhecido em Portugal, trata-se de um modelo comprovado e com resultados excecionais. Criado há mais de quatro décadas na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, tem vindo a crescer globalmente de forma acelerada, atraindo investidores e empreendedores pela sua abordagem estruturada e disciplinada.Ao contrário do modelo startup, onde a taxa de insucesso é elevada - cerca de 90% das empresas não sobrevivem -, o modelo "search fund" foca-se em empresas consolidadas, com um produto ou serviço validado e uma base de clientes estável, o que aumenta significativamente a probabilidade de sucesso.Fundo até 30 milhões com EBITDA de 1 a 5 milhões na miraQual é o perfil da empresa que procura?A Audaz Capital procura uma empresa com um produto ou serviço diferenciado, receitas recorrentes e uma sólida geração de caixa. Um elemento frequentemente ignorado - por ser dificilmente quantificável - mas crucial é o da cultura. Parafraseando o pensador de gestão americano Peter Drucker, "numa empresa, a cultura come a estratégia ao pequeno-almoço".Tão importante quanto a empresa em si é o setor em que opera. Privilegiamos indústrias com crescimento estrutural, evitando negócios excessivamente cíclicos ou sujeitos a disrupções imprevisíveis. Além disso, procuramos um entorno competitivo saudável, onde seja possível consolidar uma posição de liderança sem depender exclusivamente de fatores externos voláteis.E que tenha uma faturação de 10 a 30 milhões de euros e um EBITDA entre um e cinco milhões. No entanto, não é uma restrição rígida. Se surgir uma grande empresa com números acima desse intervalo e um vendedor que se identifique com a proposta de valor da Audaz, os meus investidores e eu seremos, naturalmente, flexíveis.Qual será o valor do fundo?De até 30 milhões de euros.Qual é o ponto de situação da busca da empresa a adquirir? Ao longo dos últimos oito meses de pesquisa, reunimo-nos com mais de 140 empresas, analisando diversas oportunidades sobretudo dentro dos setores industrial e tecnológico.No setor industrial, os modelos de negócio são, em geral, fáceis de compreender, e algumas empresas revelam-se excecionais em termos de posicionamento e rentabilidade. Já no setor tecnológico, a análise é mais complexa: há uma maior opacidade dificultando a compreensão dos modelos de negócio e, sobretudo, na avaliação da sustentabilidade da vantagem competitiva, quando esta existe.Aproximadamente 15% das empresas contactadas são portuguesas e 85% espanholas, um rácio que reflete a diferença de dimensão do PIB entre os dois países.Em Portugal, surpreende a forte predominância da atividade industrial no Norte, contrastando com um menor dinamismo no Sul (significativamente mais enviesado ao setor dos serviços). Sobre as empresas que estão no radar, é maior a probabilidade de a escolhida ser portuguesa ou espanhola? A empresa a adquirir ainda não está identificada, mas estamos atualmente a aprofundar relações com três potenciais contrapartes. Trata-se de uma decisão de enorme impacto para ambas as partes. É possivelmente a compra mais importante da minha vida e a venda mais importante da vida do empresário. Por isso, é fundamental que tomemos o tempo necessário para nos conhecermos verdadeiramente e construirmos uma relação de confiança.Sob a inspiração da circum-navegação Por que é que sediou a Audaz Capital em Madrid?A minha pesquisa está orientada para encontrar e adquirir uma empresa em Portugal ou Espanha. Como filho de pai espanhol e mãe portuguesa, o meu crescimento esteve sempre marcado pelas duas culturas. Mudei-me com a minha família para Madrid porque em Espanha o universo de investimento é mais vasto, e porque a partir de Madrid consigo visitar presencialmente empresas em toda a Península Ibérica com maior facilidade.No entanto, sou completamente agnóstico quanto ao lado da fronteira onde a empresa se encontra. Acredito muito mais nas semelhanças do que nas diferenças entre os dois países. Por que não desenvolveu este projeto no Reino Unido? Viveu lá quase duas décadas.Na realidade, nunca considerei essa hipótese. Para que este modelo funcione, tem de existir uma forte identificação entre o vendedor e o comprador porque, afinal, trata-se da continuidade do legado do empresário. Culturalmente, essa proximidade é muito mais natural em Portugal e Espanha do que seria no Reino Unido.Porquê Audaz? O nome Audaz reflete as características que quero que este projeto inspire: coragem, ousadia e determinação. Além disso, remete para a frota de expedição marítima liderada por Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano - um português e um espanhol, tal como o meu universo de pesquisa -, que completaram a viagem de circum-navegação, que considero a maior façanha de exploração da História. Por fim, seduziu-me a semântica da palavra: escreve-se e tem o mesmo significado em português e espanhol, além de começar com "a" e terminar com "Z", simbolizando um percurso completo, do início ao fim - exatamente como procuro fazer em tudo o que me envolvo. A gestão em Espanha "tende a ser mais hierárquica e assertiva"Na sua perspetiva, quais são as semelhanças entre boas empresas cotadas e privadas?Foco no cliente - independentemente da escala ou estrutura de capital, todas as boas empresas partilham um princípio fundamental: a satisfação de determinada necessidade do cliente. Na Audaz, cada reunião gira à volta da mesma premissa: O que distingue a sua empresa aos olhos do cliente?E cultura de excelência - as empresas são feitas de pessoas, e tanto no setor privado como no mercado cotado destacam-se aquelas onde prevalece um ambiente de exigência, meritocracia e espírito de superação.E o que é que as diferencia?A profissionalização - nas empresas cotadas, predominam especialistas em cada área, com equipas altamente estruturadas. Já nas privadas, é comum encontrar uma arquitetura mais centralizada, onde os fundadores acumulam múltiplas funções, o que pode trazer flexibilidade, mas também desafios na delegação e (in)eficiência operacional.E a digitalização - muitas empresas privadas ainda operam com sistemas nada ou pouco integrados onde prima a ausência de mecanismos de controlo, o que contrasta com a maior sofisticação tecnológica das empresas cotadas. Isso pode resultar em processos menos eficientes e mais dependentes de métodos tradicionais, impactando escalabilidade e produtividade.E que vantagens competitivas têm as empresas privadas portuguesas num mercado globalizado?Espírito empreendedor - as empresas portuguesas distinguem-se pelo arrojo dos seus empresários. Talvez impulsionados pela dimensão reduzida do mercado interno ou pelo legado expansionista do país, o empreendedor português não hesita em explorar novos mercados. Da minha experiência, diria que esta mentalidade é mais pronunciada do que aquela observada nas PME espanholas.E a especialização - em setores como o têxtil, calçado ou nichos industriais, as empresas portuguesas mantêm um saber-fazer altamente técnico, que continua a ser um diferencial competitivo. A aposta em qualidade, inovação e flexibilidade produtiva permite que Portugal se mantenha relevante a nível global, mesmo perante a concorrência de mercados de maior escala ou custos mais competitivos.Pela sua experiência, quais são as grandes semelhanças entre a gestão portuguesa e a espanhola?A forte relação interpessoal nos negócios - em ambos os países, a confiança e o "networking" desempenham um papel essencial na tomada de decisões e na construção de parcerias. As relações empresariais são muitas vezes baseadas na proximidade e no tempo dedicado à criação de laços sólidos.E o foco na resiliência e adaptação - a capacidade de enfrentar crises económicas e ajustar-se a novos contextos é uma característica presente tanto em Portugal como em Espanha. O histórico de desafios económicos fez com que os gestores de ambos os países desenvolvessem agilidade e pragmatismo na gestão.E quais são as grandes diferenças? A escala e acesso ao mercado - o mercado espanhol, sendo significativamente maior, permite um crescimento interno mais rápido. Em contrapartida, as empresas portuguesas tendem a procurar a internacionalização mais cedo, como forma de expandir as suas oportunidades.E o estilo de liderança - em Espanha, a gestão tende a ser mais hierárquica e assertiva, com decisões concentradas nos níveis superiores. Em Portugal, predomina um modelo mais consensual e relacional, onde a negociação e o envolvimento das equipas são frequentemente valorizados.

Via Verde quase duplica dimensão com primeira compra lá fora
17/07/2025 23:30

EUA querem banir tecnologia chinesa dos cabos submarinos
17/07/2025 22:55

BCP já vale mais do que a Renault. Elite do PSI nas 300 maiores europeias
17/07/2025 22:12

Netflix supera expectativas. Lucros aumentam 46% para 3,1 mil milhões de dólares
17/07/2025 21:19

Dados económicos impulsionam Wall Street. S&P 500 bate novo recorde
17/07/2025 21:09

Trump diagnosticado com insuficiência venosa
17/07/2025 20:32

Casa Branca exige explicações sobre custos de renovação multimilionária de sede da Fed
17/07/2025 20:22

Governo volta atrás no calendário para sucessão de Centeno no BdP
17/07/2025 20:15

CMS Portugal antecipa ano positivo para o private equity. Saúde e defesa em destaque
17/07/2025 19:29

Apoios à habitação com "atrasos significativos" para senhorios e inquilinos, diz Provedora
17/07/2025 18:20

Universidade de Coimbra desenvolve guia para ajudar na descarbonização de edifícios na Europa
17/07/2025 18:17

Berardo e dois advogados acusados de burla qualificada
17/07/2025 17:51

Media Capital está a negociar compra do Sol e jornal i
17/07/2025 17:32

Era melhor vender a TAP toda? "Não escondo que era a minha opinião", diz Montenegro
17/07/2025 17:13

Lisboa fecha na linha de água travada pelas energéticas e Jerónimo Martins
17/07/2025 16:55

Grupo Brisa compra francesa Axxès e reforça Via Verde na Europa
17/07/2025 16:30

Governo vai aprovar novo suplemento extraordinário para pensões até 1.567 euros
17/07/2025 16:00

"Insuficiente", "radical" e "agressivo". As reações ao histórico orçamento de 2 biliões da UE
17/07/2025 15:05

Bruxelas abre processo contra Espanha por intervenção na OPA do BBVA ao Sabadell
17/07/2025 15:04

O que dizem as cartas sobre a TAP que o Governo não encontra
17/07/2025 14:47

Ajuda

Pesquisa de títulos

Fale Connosco

VerSign Secure

Por favor leia o Acordo de Utilização e política de cookies :: Copyright © BiG :: Versão 3.0 :: Todos os direitos reservados :: bigonline é uma marca registada do BiG. O Banco de Investimento Global S.A. é uma instituição registada no Banco de Portugal sob o nº61, e na CMVM autorizada a prestar serviços de investimento constantes do nº 1 do Artigo 290 do CVM. Para qualquer informação adicional, contacte-nos via internet ou pelos telefones 21 330 53 72/9 (Chamada para a rede fixa nacional. O custo das comunicações depende do tarifário que tiver acordado com o seu operador de telecomunicações).