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A filosofia vai sair da academia
12/06/2025 16:00
A filosofia é uma urgência dos nossos dias. Foi a pensar nisso que Catarina Barosa decidiu criar o primeiro Festival Internacional de Filosofia em Portugal. Chama-se Espanto e acontece entre os dias 19 e 22 de junho, em vários espaços de Cascais. O tema é o medo - porque o medo também nos une. "É uma força invisível que nos paralisa, mas também nos pode transformar." O festival traz a Portugal filósofos e pensadores como Peter Sloterdijk, Gilles Lipovetsky, Daniel Innerarity e Samantha Rose Hill, e presta homenagem ao filósofo português José Gil, autor do livro Portugal Hoje - O Medo de Existir.
"Vivemos tempos complexos, em que as pessoas facilmente se agarram a opiniões sem base em factos reais, tornando difícil uma reflexão profunda sobre muitas questões. Há aqui uma urgência da filosofia; uma urgência de fazer as pessoas perceberem a importância do pensamento", sublinha a organizadora do festival, que é também diretora criativa do projeto Líder e autora de livros como "Giro Logo Existo", que reúne conversas com seis filósofos.
É essencial, por isso, que a filosofia saia da academia e vá para a praça pública. "Isso obriga os filósofos participantes, muitos deles académicos, a fazer um esforço de comunicação com o público. É, portanto, um desafio para ambos os lados: para quem comunica e para quem escuta, desconstruindo a ideia de que a filosofia é difícil. Não é difícil - e pode, até, ser muito amiga das pessoas, sobretudo nos tempos que vivemos", diz Catarina Barosa.
Os filósofos vão mesmo para o terreno. Os bairros da Torre, da Adroana e 25 de Abril irão receber a iniciativa "Voluntariado Filosófico", com conversas informais com vários pensadores. Haverá ainda palestras e debates no Museu Casa das Histórias Paula Rego, encontros com outros criadores como Beatriz Batarda, Joana Bértholo e Arlindo Oliveira, além de apresentações e "workshops" nos jardins do museu. Há também filosofia para crianças. O festival termina com uma homenagem ao filósofo português José Gil.
Em tempos de incerteza e ansiedade, o medo foi o tema escolhido para servir de âncora ao festival. "Se há algo que todos os seres humanos têm em comum, é o medo. O medo é aquilo que nos une. O que nos distingue é a forma como lidamos com ele. O que fazemos com o medo? É aí que reside, talvez, a nossa diferença. Há quem fuja, quem se resguarde, e quem avance, passando por cima de tudo. Aquilo que fazemos com o medo - que é tão constitutivo da nossa essência - é o que nos separa", reforça a organizadora do Espanto.
