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Inês dos Santos Costa: "Empresas dependentes de materiais importados podem ter problemas"
21/05/2025 12:30

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    Bilhete de identidade Idade: 45 anosCargo: Associate Partner na Deloitte, Secretária de Estado do Ambiente (2019-22), Adjunta para a Economia Circular. Ministério do Ambiente (2016-19), Investigadora no IN+ Centro de Investigação em Inovação, Tecnologia e Políticas do IST (2003-10)Formação: Doutoramento em ecologia industrial, Instituto Superior Técnico (2006-10)
    A maioria das empresas estão a manter investimentos que tinham previstos, apesar da paragem do relógio para aplicação de diretivas europeias ligadas à sustentabilidade, uma decisão da Comissão Europeia no contexto do processo de simplificação da regulamentação. É o que Inês dos Santos Costa está a verificar, considerando que as empresas veem nessas regras, mesmo não estando em vigor, uma oportunidade para fazerem o seu levantamento estratégico. Convidada das "Conversas com CEO", a "associate partner" da Deloitte com a área da Sustentabilidade e especialista em economia circular considera que as tarifas de Trump têm levado as empresas a estarem mais atentas à gestão de risco da cadeia de fornecimentos. E a tomarem medidas que passam por usar materiais já disponíveis. Durante mais de meia hora, numa entrevista que pode ser ouvida na íntegra em podcast, falamos ainda da sua experiência governativa, do atraso do país na gestão de resíduos e do que se está a passar nas universidades norte-americanas.

    Foram difíceis os tempos no Governo?
    Foram desafiantes, mas houve muita recompensa. O convite do engenheiro João Pedro Matos Fernandes [ministro do Ambiente], que não conhecia, foi surpreendente e baseado nos conhecimentos que tinha de economia circular. Ele tinha uma visão como a do "Green Deal", antes do "Green Deal", de descarbonização, economia circular e valorização do território e biodiversidade. E estes três pilares tinham de estar integrados num apoio financeiro, em que se tornou o Fundo Ambiental e a Estratégia Nacional de Educação Ambiental (ENEA). O importante é não perder o rumo, contribuindo para melhorar as condições ambientais e de vida da população.

    Um dos problemas com que o país se debate é a gestão de resíduos. Há até quem antecipe o regresso das lixeiras. Porque é que nos atrasámos tanto? É a culpada?
    (Risos) Bem, espero que não. Há um problema de anos de decisões adiadas. Fizemos uma análise da evolução das políticas de gestão de resíduos, desde os primeiros Planos Estratégicos para os Resíduos Urbanos (PERSU). E identificámos que houve um momento, imediatamente antes da troika, no governo Sócrates, em que estávamos a entrar na fase de recolher os resíduos orgânicos das casas das pessoas. Com a grande recessão, houve uma situação de urgência e decidiu-se apostar na recolha de tudo, separando em alta…

    …Entretanto, saiu a troika e passaram-se oito anos.
    Exato. Durante todo esse tempo houve um investimento na recolha seletiva de embalagens, mas não se avançou na que está mais perto do cidadão e nos instrumentos que incentivam isso. O grande impulso, que tentei dar como secretária de Estado, foi começar a fazer o caminho para retirar os bioresíduos do lixo indiferenciado.

    Mas já está a ver algum progresso?
    Já vejo algum progresso, mas poderíamos ir com um pouco mais de ambição. Uma das coisas essenciais é uma tarifa sobre quantidade de resíduos indiferenciados que produzimos. Colocámo-la na legislação e, pelo que li nas notícias, depois de ter saído do Governo, foi adiada. Já podíamos ter essa tarifa e não temos. É fundamental desacoplar a tarifa dos resíduos da do consumo da água, para darmos ao cidadão o sinal de que quanto menos separar e mais resíduo indiferenciado produzir mais irá pagar.

    Temos uma visão de túnel sobre o carbono, ao ponto de só apontarmos ao carbono como inimigo número um.
    Além deste tema, qual é o estado da sustentabilidade em Portugal?
    Começava pelos que estamos melhor, como a água, a transição para as energias renováveis e a descarbonização. Agora há ainda uma ligação a fazer de atividades económicas, como a agricultura ou a indústria, com questões que vão ser uma realidade a curto prazo. Quer se acredite ou não que as alterações climáticas são provocadas por mão do homem, os impactos estão aqui e são cada vez mais frequentes e intensos. E nós ainda não estamos verdadeiramente "aware" das questões da gestão de risco, de como nos vamos adaptar não só ao nível do território, mas também nas cadeias de valor, no acesso a recursos materiais. Temos uma visão de túnel sobre o carbono, ao ponto de só apontarmos ao carbono como inimigo número um. E deixamos outras questões.

    Quais são as outras questões que deviam subir na hierarquia das prioridades?
    No contexto em que vivemos é essencial olharmos para os impactos associados à cadeia de valor e no que diz respeito à gestão de recursos e de energia.

    O que significa isso? Uma empresa com vários fornecedores espalhados pelo mundo...?
    …Está mais suscetível a ter problemas de abastecimento. Empresas dependentes de materiais importados podem ter problemas, com as guerras como na Ucrânia, com Trump nos EUA. Temos de começar a ser mais eficazes, utilizando materiais que já temos disponíveis. Temos de desenvolver um sistema económico que permita um acesso mais fácil a materiais, mas também que valorize as empresas que querem prolongar o uso e o ciclo de vida desses materiais e produtos e retirar daí rendimento.

    E vê no país empresas preocupadas com isso?
    Sim, vejo empresas preocupadas em diferentes setores e dimensões. Temos empresas pequenas, em nichos, na metalomecânica, têxtil,  calçado, que estão a tentar explorar, com a ajuda de fundos, como o PRR, alternativas que possam garantir a sua sustentabilidade. E temos grandes empresas que desenvolveram plataformas de reparação, reutilização, de segunda vida. O IKEA, por exemplo, tem desenvolvido uma linha de negócio dedicada à economia circular e reutilização de móveis e reparação. Dos grandes aos pequenos, nota-se preocupação. Mas ainda não é rápido ou forte o suficiente para uma transformação de todo o sistema.

    E que impacto nas empresas é que está a identificar desta agenda Omnibus da Comissão Europeia?
    No Omnibus, para já, ainda só temos como certo o "stop the clock". E a Comissão, o Conselho e o Parlamento vão negociar e reabrir o processo. É o que está em curso. Aliás, a profusão de documentos que têm saído é quase estonteante. Cada um quer a sua coisa. Cada Estado-membro diz: eu quero 1.000, eu quero 500. Parece que estamos a leiloar limiares (risos). Vamos ver o que vai acontecer. A maioria das empresas, felizmente, está a continuar a fazer o seu percurso. Porque vê que a diretiva, nomeadamente os exercícios de análise de dupla materialidade, é uma oportunidade para fazerem o seu levantamento estratégico. De perceberem onde estão a causar maiores impactos, sejam positivos ou negativos, e onde estão os riscos e as oportunidades.

    Mas não correm o risco de aparecerem indicadores que não esperavam e verem que deviam ter feito outro tipo de investimentos?
    Não. É preciso olhar para este exercício não de uma perspetiva de "compliance". Nunca foi a intenção da Comissão fazer um exercício de escrutínio ou de penalização das empresas. É uma questão de gestão de risco, porque assim percebemos onde estão os maiores. O sistema financeiro, que tem um mandato de investimento verde, também fica com essa informação, o que facilita o seu trabalho, de saber onde tem de investir e beneficiar aqueles que estão a cumprir. Era um "win-win". O problema foi quando começamos a ligar o complicómetro e a dizer que tudo é importante e de repente "ai meu Deus, agora tenho de reportar 1.100 indicadores". Isto não é fazível e assustou. Mas o risco, a disrupção, a evolução, não se faz sem alguma dor. Não é um caminho lisinho.

    Esta guerra tarifária de Trump acaba por empurrar [as empresas] para uma melhor gestão de recursos.
    Isto significa que as políticas de Donald Trump não estão a ter impacto nas empresas?
    Não digo que não, obviamente que sim. Muitas empresas não estavam preparadas para este contexto de mudança. Há quem diga que esta guerra tarifária de Trump acaba por empurrar para uma melhor gestão de recursos, maior eficácia na utilização dos materiais e dos produtos. Porque houve um tal abanão no mercado, um tal receio, que forçou as empresas a trabalharem em áreas que, se calhar, não estavam nos seus planos, nomeadamente as questões da economia circular.

    As políticas de diversidade, equidade e inclusão estão a ser banidas pela administração Trump perseguindo até algumas empresas. Está a existir algum impacto nas empresas portuguesas?
    Não noto. Pelo contrário. Nas empresas com que lidamos existe uma vontade de querer continuar o rumo. No estudo que fizemos, para a conferência do ano passado do Negócios Sustentabilidade 20|30, chegámos a essa conclusão. A diversidade, as questões de justiça, proteção do trabalhador, envolvimento com a comunidade, continuam a ser temas muito caros às empresas. 

    E a Deloitte como está a reagir? Sempre que trabalham com os EUA têm de limpar as políticas DEI?
    Não estou muito ligada ao que se passa na Deloitte do outro lado do Atlântico. Mas, deste lado, na Europa, não sinto que haja aqui um impacto assim tão brutal…

    O que significa "assim tão brutal"? Quer dizer que há algum?
    Há algum, não vou dizer que não. Temos clientes em todo o mundo. Há questões relacionadas com o peso dos EUA ou do seu governo enquanto cliente. Mas isso é a realidade para muitas outras consultoras. Na sustentabilidade, não noto que haja uma diferença substancial, porque, independentemente do que se passe nos Estados Unidos, é importante para a sobrevivência das empresas. 

    Esteve nos EUA, em Yale. Como olha para o que se está a passar nas universidades americanas?
    Olho com alguma preocupação. O ambiente onde estive era muito plural, dinâmico e vivo, com estudantes de todo o mundo. Estava num centro de investigação multicultural, onde havia muita partilha de informação, muita discussão, alguma até filosófica, do porquê da ciência e porque é que estamos a fazer isto. Era muito alimentado pela diversidade. Tínhamos professores convidados europeus, asiáticos, africanos. Tenho receio, tenho pena –  tristeza – se isso realmente deixar de acontecer. Vamos perder muita dessa interação, que só nos traz colaboração, troca de ideias e inovação, que beneficia muito mais do que apenas um grupo de estudantes num centro de investigação.

    E qual é o desafio que mais a preocupa neste momento?
    Já falámos de muitos. Uma preocupação é ver que se põe em dúvida aquilo que a ciência nos está a dizer. Costumo dizer que as leis económicas não são verdadeiras leis. As verdadeiras leis são as da termodinâmica. Custa-me muito viver um momento em que tudo isso se põe em causa, por questões que ultrapassam o senso comum. Isso assusta-me mais do que outra coisa qualquer, deixa-me preocupada com o futuro, se vamos continuar a ouvir quem tem o conhecimento técnico e científico. Ou se, de repente, só porque alguém tem uma opinião de que isto não é verdade, porque ouviu na internet, deixamos de considerar aquele trabalho como válido. Vejo isso com muita preocupação, a reboque de tudo o que se está a passar nos EUA, como a retirada de financiamento a programas de vacinação ou de investigação do cancro.

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