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Mais do que Alcochete, Alta Velocidade é "determinante"
20/04/2025 18:49

Francisco Calheiros já se convenceu que nunca irá entrar num avião que descole ou aterre no Aeroporto Luís de Camões, a localizar-se em Alcochete ainda em ano incerto, mantendo viva a esperança de que ainda o irá ver já construído. Defende que este deve avançar o quanto antes, sendo uma obra essencial para o turismo, para o país e o seu desenvolvimento económico. Outra obra em que Portugal tem perdido tempo precioso é na ferrovia, que já deveria ligar as principais cidades portuguesas até à capital espanhola. Em entrevista ao Negócios e à Antena 1, defende que o aeroporto Humberto Delgado poderia ganhar maior capacidade pela libertação de voos provenientes de um maior fluxo de turistas a chegar a Lisboa através da Alta Velocidade.

O aeroporto de Lisboa está esgotado. Como é que o setor pode responder ao aumento da procura?

Nós não temos um problema. Temos um enorme problema no aeroporto. Gostaria de extravasar um bocadinho do turismo, embora seja evidente que para o turismo é perfeitamente determinante, mas acho que também é determinante para a economia portuguesa. É uma infraestrutura nacional e o nosso aeroporto da capital estar sem capacidade prejudica o turismo e o investimento estrangeiro. É dramático e estamos muito preocupados. Sabemos que há uma decisão, mas não acredito que vamos ver Alcochete nos próximos 10 ou 12 anos. Estando o aeroporto Humberto Delgado em “full capacity” não é admissível que não se tenha de fazer qualquer alternativa. Temos imensas companhias estrangeiras a quererem aumentar as frequências [para Lisboa] e não conseguem porque não há “slots”.

E este é um problema.

A Korean Air esteve muitos meses há espera destes “slots” e hoje Lisboa tem ligação direta a Seul. Estamos a falar de coreanos, os turistas que mais presença têm em Fátima. Nós temos alojamento, restauração, fazemos promoção e negociamos linhas diretas e depois os turistas não podem vir porque não têm onde aterrar...

Continua a defender, neste caso, a solução do Montijo como um aeroporto complementar a Lisboa a curto prazo?

Sem contestar a opção Alcochete, é evidente que tem de haver uma solução intermédia e achamos que é o Montijo. Se disserem que há outro, nós apoiamos, mas não podemos estar 12 anos sem aumentar a capacidade da Portela.

Colocar a venda da TAP em “standby” foi uma boa opção?

Já sabemos que a TAP é para privatizar, estava no Programa do Governo. Mas o que aconteceu? Nada. Podemos dizer o mesmo da ferrovia, que é extremamente importante, porque é uma das mitigações que poderíamos ter para dar capacidade ao aeroporto.

Como?

Com a Alta Velocidade para o Porto e Madrid falamos de 40 voos por dia que deixam de ser necessários. Já viu o que é ter mais 40 voos internacionais? A ferrovia passou a ser determinante. Há anos que andamos a falar da ferrovia e só espero que não venha a ser [como] o novo aeroporto, porque é determinante para podermos aliviar o aeroporto e ter outros voos internacionais.

Isso significa que o impasse político que se vive está a ter impactos indiretos?

O problema de não ter Governo é que há determinadas decisões estruturais que são fundamentais para o turismo e outras atividades. Já falámos do aeroporto, da TAP e da ferrovia. Não podemos fazer nada, dependem exclusivamente do Governo. Vamos atuando onde podemos, continuamos a fazer o nosso trabalho do dia-a-dia, mas as grandes questões estruturais precisam de um Governo que possa tomar decisões.

É aqui que o país deve continuar a apoiar o desenvolvimento e também valorizar o setor do turismo?

Nós não precisamos da ajuda de ninguém para tomar decisões, fazemos a nossa vida. Mas há decisões que não podemos tomar e são importantes. E aí pedimos que haja celeridade, nomeadamente na questão da ferrovia. Também já expliquei o porquê da importância do novo aeroporto e inclusive da privatização da TAP. A TAP é muito importante para o turismo português e tem sido determinante no aeroporto de Lisboa, e eu sou daqueles que não acredita numa companhia orgulhosamente só. Repare que os grandes concorrentes da TAP, especificamente a espanhola Iberia, a francesa Air France e a inglesa British Airways, ou a Lufthansa estão todas numa plataforma. Não podemos ser nós, ainda por cima num país pequeno e periférico, que temos uma companhia isolada.