Como se ama um país falando das suas desgraças
20/04/2025 13:00
Elena Kostyuchenko tem 38 anos e está exilada algures, muito provavelmente na Europa, talvez na Alemanha, para onde foi em 2022, após o início da invasão da Ucrânia e de ter ficado sem trabalho na Rússia. Suspeita-se que tenha sido uma tentativa de envenenamento em 2023 num comboio em Berlim. Foi nesse ano que lançou "Amo a Rússia", agora com tradução portuguesa.
Numa altura em que praticamente o mundo inteiro odeia a Rússia, dar como título a um livro "Amo a Rússia" tem vários sentidos, até porque, pelas suas mais de 400 páginas, só se desfilam desgraças, tristezas e alguns horrores. A aparente contradição é fácil de explicar: numa ditadura onde a crítica não é permitida, a crítica passa a ser um ato de amor.
Contexto. Elena Kostyuchenko não tinha propriamente uma aspiração a jornalista. Começou na profissão para ganhar dinheiro, acabando por se converter pelo exemplo de Anna Politkovskaya (1958-2006), célebre jornalista do jornal "Novaya Gazeta", que acabaria assassinada a tiro no elevador do seu prédio. O "Novaya Gazeta", onde Elena Kostyuchenko acabaria por fazer também a sua carreira, era um órgão de comunicação social incómodo do regime e viria a ser fechado em 2022. Daí o exílio de Elena Kostyuchenko.
O que está neste livro é essencialmente a essência do "Novaya Gazeta" ("o melhor jornal do mundo"), de Anna Politkovskaya e dos jornalistas que lá trabalhavam, ou seja, são reportagens sociais, políticas e militares sobre como, debaixo da propaganda oficial, jaz um povo miserável, oprimido e silenciado. Como diz o pós-título, são "Histórias de um país perdido".
Há alguns pontos em comum nestas "Histórias". Um deles é o medo, que está presente em todos os níveis da sociedade, especialmente um medo em particular, bem resumido numa vizinha da autora: "Tinha medo do ‘Estado’ – de todos os burocratas, de qualquer pessoa vagamente oficial, dos militares, da polícia." Outro denominador comum é o álcool. Todo o país parece estar mergulhado nele, sobretudo vodka, como se fosse um ópio do povo patrocinado pelo regime.
As reportagens abarcam diferentes temas: a perseguição às minorias étnicas e de género; a corrupção a todos os níveis da sociedade; a polícia e o sistema judicial como braços do regime; a província pobre, explorada e isolada, sem estradas e médicos, onde ao Estado não interessa ir; o mercado da prostituição; as prisões e mortes de ativistas, jornalistas ou cidadãos comuns que desencadearam algum tipo de resistência; a propaganda na televisão, que converteu até a mãe da autora, que passou a acreditar também que quem escrevia contra a guerra na Ucrânia era anti russo; ou a juventude perdida, com os seus "olhos cheios de um vazio extraordinário".
Há um capítulo em que se regressa a Beslan, onde em 2004 mais de mil pessoas, a maioria crianças, foram feitas reféns por um grupo terrorista. Acabou com uma incursão do exército que levou tudo à frente. "O assalto revelou a verdadeira essência da Rússia de Putin: é possível matar crianças para destruir o inimigo, as suas vidas não são um preço demasiado elevado". Morreram 334 pessoas – 186 crianças.
Quando estava aberto, o "Novaya Gazeta" tinha na parede onde se faziam as reuniões as fotos dos seus jornalistas mortos. "Sempre que um novo retrato é colocado, tentamos pendurá-lo de forma que não haja mais espaço na parede. Quando não nos podemos proteger a nós próprios ou à nossa gente, tornamo-nos supersticiosos. (…) E há sempre espaço para mais uma". Apesar disso, em todo o livro, não há um pingo de martirização, o que é extraordinário para jornalistas que arriscam a vida diariamente. Quando vemos nas redes sociais jornalistas portugueses a vitimizarem-se pelas ofensas que recebem nas caixas de comentários, não é difícil achar como são ridículos face ao exemplo e à vida dos jornalistas independentes russos.
Amo a Rússia – Histórias de um país perdido
Elena Kostyuchenko
Temas & Debates, 448 págs., 2025
Depois de Medina, Mariana Vieira da Silva afasta também candidatura à liderança do PS
23/05/2025 00:27
Reservas estratégicas de alimentos têm de ter parcerias público-privadas
22/05/2025 23:44
Supremo afasta mais-valias na venda de parte da herança
22/05/2025 23:30
Wall Street fecha mista com juros da dívida ainda em foco
22/05/2025 21:16
César vai propor eleições imediatas para secretário-geral do PS
22/05/2025 20:48
As promessas eleitorais da AD para rever a Constituição
22/05/2025 20:15
Coindu justifica despedimento coletivo e lay-off com "grave situação de crise"
22/05/2025 20:00
Apreensões de produtos contrafeitos aumentaram 398% em 2024
22/05/2025 19:40
Mortágua diz que país "só vai conhecer instabilidade" com reforço à direita
22/05/2025 19:13
Dívida de Portugal ao lado da Áustria e Finlândia. Periferia já não faz sentido, diz Commerzbank
22/05/2025 18:59
REN pede adiamento da entrega do relatório do apagão. Prazo alargado até 28 de maio
22/05/2025 18:55
Preço da pasta e tarifas levam lucro da Altri a recuar 65% até março
22/05/2025 18:33
Ordem dos Engenheiros avançou com proposta para agregar Ordem dos Engenheiros Técnicos
22/05/2025 18:29
CGD já gastou 30% da quota da garantia pública para compra de casa
22/05/2025 18:19
Acionistas da Novabase aprovam aumento de capital e dividendos de 48 milhões de euros
22/05/2025 18:15
Paulo Macedo: "Não é saudável ter 50% da banca em mãos espanholas"
22/05/2025 18:06
Metro de Lisboa diz que greve às horas suplementares não terá impacto no serviço
22/05/2025 17:55
Novo Banco? "A Caixa pode melhorar a quota de mercado na área de empresas"
22/05/2025 17:47
CDS pede à oposição que tire ilações dos resultados eleitorais e "assegure a estabilidade"
22/05/2025 17:28
Processo de Isabel dos Santos adiado. Empresária diz que julgamento é "desnecessário"
22/05/2025 17:16