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Aqui há Estrela - e não é Michelin
18/04/2025 13:00

Os antigos jogadores e treinadores João Alves, Fernando Santos ou Jorge Jesus raramente falhavam o cozido às quartas-feiras no restaurante Del Negro na Amadora. Hoje, o prato continua a ser servido a outros protagonistas, mas sempre com a presença tricolor dos adeptos e dirigentes do clube de futebol Estrela da Amadora.

O Del Negro - assim chamado por estar na Rua Pedro Del Negro - fica a escassos metros da porta principal do Estádio José Gomes e ostenta a distinção de sócio honorário do clube, logo após os bombeiros voluntários da cidade e a empresa Dr. Bayard. O restaurante chegou a ter exposta, durante uma semana, a Taça de Portugal conquistada pelo Estrela da Amadora (ou, como se diz na cidade, o Estrela) na época 89/90, na altura com João Alves no comando técnico. A propósito, o proprietário do espaço, Victor Sousa, recorda que por vezes, à hora de almoço, o treinador passava pelas brasas numa pequena cama que estava junto à cozinha.

O restaurante Del Negro, com quase seis décadas, abriu numa altura em que o estádio era apenas um "campo da bola", a cidade pertencia ao município de Oeiras e o presidente do clube era o célebre construtor J. Pimenta. Os pais de Víctor, Delfina Cardoso e José de Sousa Isidoro, vieram da pequena localidade de Arrimal, em Porto de Mós, para se dedicarem à distribuição de leite até abrirem o restaurante Del Negro em 1967. Passados cerca de 20 anos, José Isidoro não resistiu a um ataque cardíaco durante um jogo do seu Estrela da Amadora contra o Amora na margem sul e, dois dos três filhos, Victor e Anabela Antunes, acabaram por ficar pelo restaurante com a cozinha confiada a Delfina Cardoso.

Neste espaço de gastronomia tradicional portuguesa, a comida sempre esteve entregue a mulheres, e assim parece continuar. Delfina Cardoso acabou por deixar os tachos e panelas a Almerinda, Andreia e à sobrinha Patrícia, mas continua a sentar-se todos os dias numa das mesas do Del Negro. Além do cozido, que continua a marcar as quartas-feiras, Victor destaca pratos como o arroz de pato, cabidela, favas com chouriço, dobrada, feijoada, chanfana, bacalhau espiritual e, nas sobremesas, o arroz-doce, mousse de chocolate, leite creme ou pudim. Há quem vá ao Del Negro apenas para os petiscos típicos, que vão variando entre os caracóis e caracoletas, a salada de orelha ou de polvo, codornizes, pica-pau ou túbaros de porco.

De um lado da casa lê-se "cervejaria", do outro escreve-se "restaurante", mas Victor explica com rapidez: "Depende da hora". Em dias de jogo, a ementa passa a bifanas, panados e pão com chouriço, servidos no restaurante sem mesas e cadeiras, com a ajuda de uma roulotte junto à porta. Não consta que alguma vez tenha havido desordem assinalável no espaço, nem nos jogos com os "três grandes", mas Victor lembra-se que, antigamente, os adeptos "mais duros" eram os de Guimarães. Hoje está tudo mais calmo.

O restaurante tem uma cave - que chegou a ser um bar -, onde normalmente se reúnem jogadores, dirigentes ou apenas grupos de amigos, mas, no rés-do-chão, as duas grandes janelas dão para o estádio José Gomes. A vista, diz um adepto com um dos números de sócio mais baixos, para "solo sagrado". Como se escrevia na Mensagem de Lisboa sobre o Del Negro quando o clube regressou à primeira divisão, esta é "a sede emocional do Estrela da Amadora".