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Lagarde tenta o difícil equilíbrio entre tarifas e estímulos orçamentais
18/04/2025 10:00

Depois de ter descido as taxas de juro pela sétima vez, como era amplamente esperado, os próximos passos do Banco Central Europeu (BCE)  não são tão claros. Christine Lagarde vai ter de balançar duas forças de sentidos opostos: se por um lado as tarifas de Donald Trump podem baixar o crescimento económico - e dos preços (pelo menos na Zona Euro) -, os biliões de euros previstos para investimento europeu podem ter o efeito contrário. 

Em pleno tumulto nos mercados financeiros devido à guerra comercial, o BCE voltou a cortar as taxas de juro, pela sétima vez em cerca de um ano, colocando a taxa de referência nos 2,25%, em linha com o esperado pela generalidade de analistas e investidores. "O processo desinflacionista está bem encaminhado", justificou Christine Lagarde. Em março, a inflação abrandou para 2,2% em março (depois dos 2,3% em fevereiro), pelo segundo mês consecutivo. Mas a presidente da autoridade monetária parecia mais preocupada com os riscos para o crescimento económico da Zona Euro associados às tarifas de Donald Trump do que com a inflação. 

No comunicado da decisão monetária, o BCE sublinhou que "a grande escalada nas tensões comerciais globais e as incertezas associadas vão diminuir o crescimento da Zona Euro, afundando as exportações e arrastando o investimento e o consumo". E Lagarde afirmou mesmo que as previsões económicas estão envolvidas numa "incerteza excecional".

A grande escalada nas tensões comerciais globais e as incertezas associadas vão diminuir o crescimento da Zona Euro.Christine Lagarde
Presidente do BCE

Foi também nesse sentido que o banco central retirou do comunicado da decisão monetária a referência à restrição da política monetária. Inicialmente, quando começou a subir as taxas de juro para arrefecer a economia (e os preços) o BCE dizia que a sua política iria manter-se "restritiva" para atingir o objetivo de médio prazo da inflação de 2%. Depois começou a dizer que estava a tornar-se "significativamente menos restritiva",  indicando que a fase da redução dos juros estava perto do fim.

Mas a política comercial da Casa Branca veio baralhar as contas. Christine Lagarde sublinhou a importância desta mudança, explicando que foi uma avaliação "com relevância" que se tornou "irrelevante". Em fevereiro, o BCE atualizou as suas estimativas para a chamada taxa neutral de juros - que não estimule nem restrinja a atividade económica -, apontando para um intervalo entre 1,75% e 2,25%. No entanto, Lagarde explicou agora que essa visão só faz sentido num cenário sem choques. "Não estamos num mundo livre de choques", sublinhou.

Assim, a maioria dos analistas viu no BCE uma postura mais "dovish", ou seja, pendendo para novos cortes nas taxas de juro. O cenário visto como mais provável pelo mercado é de dois novos cortes este ano, até 1,75%. Há, contudo, analistas que admitem já um terceiro corte, até 1,5%, ou seja, abaixo do limiar neutro estimado por Frankfurt.

Tarifas também podem puxar preços para cima

Embora a palavra de ordem deva continuar a ser para baixar as taxas de juro, Lagarde pode ter "alguns obstáculos ao longo do caminho", afirma Roelof Salomons, estratega-chefe de investimento do BlackRock Investment Institute. "O BCE pode ter de mudar de direção para lidar tanto com as tarifas como com os estímulos orçamentais da Europa - e com poucos dados para iluminar o caminho", até à próxima reunião, acrescenta.

Também Dean Turner, economista-chefe para a Zona Euro da UBS Global Wealth Management, vai no mesmo sentido: "Os responsáveis pela política estão a tentar encontrar um equilíbrio entre impulsos expansionistas — como preocupações com o crescimento, a inflação e os conflitos comerciais em curso — e desenvolvimentos mais restritivos, sobretudo no que diz respeito à política orçamental, com destaque para a Alemanha". Ou seja, vão tentar adaptar a sua política consoante a necessidade da economia e da inflação.

Mas vamos por partes. Primeiro, Lagarde admitiu que o efeito das tarifas na inflação dos países da moeda única não é tão claro: "Sabemos que [as tarifas] produzem um choque negativo na procura. Podemos antecipar que isso vai ter algum impacto no crescimento, mas o impacto líquido na inflação só será mais claro com o passar do tempo", afirmou. Por um lado, as tarifas podem puxar os preços para baixo, pela redução das exportações, redefinição de rotas de exportação para a Zona Euro de países com excesso de capacidade, como a China. Além disso, o impacto nos mercados financeiros pode direcionar as poupanças para a procura interna e isso também pode baixar a inflação. Isto a somar à - já visível - valorização do euro e à queda dos preços de energia. Em contraste, uma fragmentação das cadeias de abastecimento pode aumentar a inflação, através da subida dos preços das importações.

O BCE pode ter de mudar de direção para lidar tanto com as tarifas como com os estímulos orçamentais da Europa - e com poucos dados para iluminar o caminho.Roelof Salomons
Estratega-chefe de investimento do BlackRock Investment Institute

 

Depois, os estímulos orçamentais em cima da mesa na Zona Euro podem alavancar a economia, contrabalançando, assim, a necessidade de o BCE reduzir ainda mais as taxas de juro. Em causa estão os 800 mil milhões de euros que a União EUropeia pretende investir em defesa e a bazuca de 500 mil milhões para investimento alemão, além dos milhares de milhões identificados no ambicioso plano Draghi para a promoção da competitividade europeia."A agenda pró-crescimento da Europa pode alavancar a procura de forma significativa", acrescenta Roelof Salomon.

É também nesse sentido que, no final da conferência de imprensa, Lagarde apelou às instituições europeias para fazerem a sua parte. "No contexto político atual, é ainda mais urgente avançar com políticas estruturais e orçamentais para tornar a economia da Zona Euro mais produtiva, competitiva e resiliente", defendeu. A francesa especificou três projetos europeus que, considera, devem ser acelerados pela Comissão Europeia: a bússola da competitividade, o mercado de capitais e o euro digital.

Agilidade entra no guião de decisão

Mais do que nunca, a evolução das taxas de juro do BCE vão depender dos dados económicos. Mas nesta quinta-feira, e perante o contexto de elevada incerteza internacional, a presidente da autoridade monetária acrescentou dois novos conceitos ao guião de decisão: preparação e agilidade. "Para determinar o novo posicionamento precisamos de dois atributos. O primeiro é preparação. Temos de estar atentos a todos os desenvolvimentos, especialmente novos choques. E o segundo é agilidade, dada a velocidade, o impacto e repercussões [da guerra comercial]", explicou Lagarde.

Na definição da política monetária, "será necessária uma abordagem coesa que, mais do que nunca, necessitará de estar dependente dos dados". O discurso cauteloso não surpreendeu os mercados, que fecharam a última sessão da semana (as bolsas estão hoje fechadas em observância da Sexta-feira Santa) com perdas ligeiras. O "benchmark" para a negociação europeia, o Stoxx 600, cedeu 0,13%, enquanto o euro cedeu 0,25% para 1,1370 dólares. Nas dívidas soberanas houve recuos, sinalizando a expectativa de contínuo corte de juros. A "yield" das Bunds alemãs a 10 anos, de referência para a Europa, recuou 3,7 pontos base para 2,467%. 

Questionada sobre se a Zona Euro já atingiu o pico da incerteza com as tarifas de Trump, Lagarde respondeu: "Não consigo responder a isso. Tudo pode mudar. Se à imprevisibilidade juntarmos a incredulidade, sobretudo numa primeira fase... o que eu sei é que no BCE temos de estar preparados para o imprevisível".

Os responsáveis pela política estão a tentar encontrar um equilíbrio entre impulsos expansionistas — como preocupações com o crescimento, a inflação e os conflitos comerciais em curso — e desenvolvimentos mais restritivos, sobretudo no que diz respeito à política orçamental, com destaque para a Alemanha.Dean Turner
Economista-chefe para a Zona Euro da UBS Global Wealth Management

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