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Mais de metade dos carros anda nas estradas europeias há mais de uma década
25/03/2025 09:00

Nunca houve tantos automóveis nas estradas europeias. Um estudo da Comissão Europeia, realizado com base nos dados oficiais dos 27 Estados-membros, revela que há mais de 250 milhões de ligeiros de passageiros a circular, com a maioria destes a terem já mais de dez anos de vida. Há um envelhecimento do parque automóvel que se traduz em maiores emissões de gases poluentes numa altura em que o foco é a descarbonização. Os 100% elétricos aceleram, mas ainda têm pouca expressão no total.

"No global, o 'stock' de carros de passageiros na União Europeia aumentou significativamente ao longo dos últimos dez anos, alcançando mais de 256 milhões de veículos em 2023, um aumento de 14% face a 2014", refere o serviço de ciência e conhecimento da Comissão Europeia – Joint Research Centre (JRC). É um fenómeno que é explicado essencialmente pelo tempo de vida cada vez maior dos automóveis no Velho Continente.

O JRC diz que "a frota de carros de passageiros na Europa está a aumentar em número e a envelhecer rapidamente". Entre 2018 e 2023, ou seja, no espaço de cinco anos, num período marcado pela pandemia de covid-19, "a idade média do 'stock' de automóveis aumentou em um ano e meio, passando dos 10,8 para os 12,3 anos", refere o estudo.

E, sublinha o estudo, "na última década, o número de carros com dez ou mais anos aumentou em quase 30%, representando mais de metade do 'stock' total em 2022". Com efeito, "55% dos carros em utilização em 2022 tinha mais de dez anos, o que compara com 48% em 2012", acrescenta. Em Portugal, de acordo com dados da ACAP, o parque automóvel tem, atualmente, uma idade média de 14 anos, sendo que Grécia e Estónia chegam aos 17 anos.

Carros caros

Há várias explicações para este envelhecimento dos veículos em circulação nas estradas europeias, mas há uma em particular: o preço dos carros novos que registou um forte aumento desde a pandemia. Estão muito mais caros, levando os seus proprietários a mantê-los durante mais tempo, aumentando a idade média do parque e, simultaneamente, dificultando a redução das emissões de gases poluentes.

"O aumento da taxa de ‘sobrevivência’ dos ligeiros de passageiros pode ser atribuído a vários fatores. Enquanto a segurança, qualidade e durabilidade dos automóveis aumentou, reflexo do sucesso das medidas da União Europeia, também a disrupção nas cadeias de abastecimento [que levaram a uma escassez de veículos novos no mercado] e o rápido aumento no preço dos automóveis novos pode ter levado os consumidores a manterem-nos durante mais tempo", refere o JRC.

No global, "os preços dos carros aumentaram a um ritmo mais rápido do que o da inflação, especialmente quando é tida em consideração a inflação "core" (que exclui a energia e a alimentação)". E isso explica também o crescimento do mercado de segunda mão. "Os novos registos de veículos representam apenas uma fração do total de vendas de carros" na UE. "Nos últimos 15 anos, nos quatro maiores mercados da UE [Alemanha, França, Itália e Espanha], os carros novos corresponderam, em média, a cerca de um terço do total de vendas anuais". E nos 27, "os novos registos representam menos de 5% do 'stock' anual de carros já nas estradas", diz.

Ameaça às metas

"Substituir o 'stock' de carros mais velhos por modelos mais novos é fundamental para acelerar a descarbonização do setor dos transportes na UE", refere o JRC, sublinhando que os modelos produzidos após 2020 "caracterizam-se por terem menores emissões" de gases poluentes. Isto também porque é desde essa altura que se assiste à eletrificação de vários modelos, seja através de sistemas híbridos, seja do reforço da oferta de 100% elétricos.

As vendas de eletrificados têm crescido de forma expressiva nos últimos anos, nos vários mercados europeus. Os híbridos destacam-se, sendo que os 100% elétricos, depois de fortes crescimentos, começaram, no ano passado, a registar quebras em vários dos principais mercados europeus. Fatores como o preço, a autonomia, mas também a rede de carregamento têm dificultado a afirmação destes veículos, ameaçando muitas das fabricantes europeias numa altura em que enfrentam a concorrência chinesa. Bruxelas mantém firme a meta ter carros novos sem emissões em 2035.