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Recordes do preço do ouro não abalam posição de refúgio
24/03/2025 21:19

O ouro está a ganhar terreno pelo terceiro ano consecutivo. Depois das valorizações de 13,1% em 2023 e de 26,6% em 2024, este ano já acumula uma subida de 15%. E não deve parar por aqui, com os riscos geopolíticos no centro das atenções, especialmente numa altura em que a Administração Trump parece decidida a impor tarifas alfandegárias adicionais aos parceiros comerciais, sobretudo como forma de pressão para que reduzam os seus excedentes comerciais com os EUA. Estas políticas protecionistas podem provocar renovadas pressões inflacionistas e penalizar muitas economias – incluindo a dos próprios Estados Unidos.

O cenário de redução dos juros diretores que começou a observar-se na segunda metade de 2024 também tem ajudado ao pulo do metal amarelo: atendendo a que não rende juros, fica assim mais atrativo como investimento quando colocado perante as obrigações. Tudo isto tem feito o metal precioso galgar sucessivos patamares, marcando recordes atrás de recordes, tendo este mês atingido – e superado – a fasquia dos 3.000 dólares por onça.

E tudo aponta para que prossiga esta senda altista. "Acredito que a tendência 'bullish' no ouro poderá continuar ao longo do ano. Estamos a observar uma convergência de fatores de sustentação: tensões geopolíticas persistentes, uma maior procura por parte dos bancos centrais e a crescente expectativa de alívio da política monetária nos EUA e noutras economias desenvolvidas", diz ao Negócios o CEO da plataforma de negociação de metais preciosos StoneX Bullion, Daniel Marburger.

Com o ouro a negociar confortavelmente acima dos 3.000 dólares, salienta Marburger, "os níveis de resistência psicológica estão a ser superados, atraindo ainda mais investidores interessados em capitalizar esta dinâmica de valorização".

"Além do seu papel como cobertura contra riscos geopolíticos, o ouro é cada vez mais visto como uma proteção contra a instabilidade monetária. A tendência de desdolarização que está em curso, particularmente junto dos bancos centrais dos mercados emergentes, está a levar a uma sustentada procura estrutural. Além disso, as restrições da oferta – devido ao número limitado de novos projetos mineiros e aos custos de produção mais elevados – estão igualmente a impulsionar os preços. Estas dinâmicas estão a deixar o mercado físico mais apertado, especialmente na Ásia e no Médio Oriente", aponta o presidente executivo da StoneX Bullion.

Mas, estando os preços tão elevados, será que os investidores podem, a dada altura, começar a desviar-se do ouro? Daniel Marburger não crê. "Embora as subidas de preços extremas possam criar volatilidade de curto prazo ou levar à tomada de mais-valias, o papel do ouro enquanto diversificador de carteiras e de cobertura contra a inflação e contra a desvalorização cambial permanece intacto. Se os receios de inflação persistirem, especialmente num contexto de novas tarifas dos EUA, os investidores poderão até reforçar as suas apostas no ouro, apesar dos preços mais altos", refere o mesmo responsável. No entanto, "se observarmos uma forte inversão nas taxas de juro reais ou uma resolução das tensões globais, algum do interesse especulativo poderá abrandar", remata.