Gestão e valor das matérias-primas presos à geopolítica
24/03/2025 18:47
Os riscos geopolíticos podem assumir variadas formas, desde guerras, terrorismo sanções económicas e acontecimentos políticos passíveis de perturbarem a atividade económica e provocarem grandes danos à economia de um país. Nos últimos anos, muitos têm sido os exemplos: a guerra comercial entre os EUA e a China no primeiro mandato presidencial de Donald Trump, a pandemia de covid-19, a invasão da Ucrânia pela Rússia e as crescentes tensões no Médio Oriente.
Todas estas tensões têm influenciado a atratividade e o desempenho de ativos-chave, como as "commodities" ou a dívida. No caso das matérias-primas, o ouro e o petróleo são dois exemplos emblemáticos – e as crises mexem não só com os preços, mas também com os níveis e a gestão dos seus "stocks" - seja nas reservas estratégicas ou nas reservas internacionais. Já no caso das obrigações soberanas, pode percecionar-se um maior risco da dívida, com os investidores a exigirem juros mais altos para financiarem os Estados.
No que diz respeito às táticas de gestão dos "stocks" das reservas de um país, em resposta aos riscos geopolíticos, estas variam consoante os ativos. O ouro, que é um ativo-refúgio por excelência, funciona como uma salvaguarda constante. Já no caso de outras reservas financeiras e petrolíferas, é habitual que um país recorra a estas fontes para uma estabilidade económica imediata, sublinha um estudo de Vu Ngo, Phuc Nguyen e Yen Hoang, da Universidade de Economia de Ho Chi Minh (UEH), no Vietname.
"As nações salvaguardam a sua estabilidade financeira e cumprem as suas obrigações em matéria de dívida externa ao manterem uma carteira diversificada de reservas. Essas reservas abrangem os recursos naturais, como ouro, petróleo e metais, bem como os ativos financeiros em moeda estrangeira - incluindo-se também os direitos especiais de saque no Fundo Monetário Internacional", aponta o estudo.
As reservas de recursos naturais, frisam os mesmos autores, oferecem estabilidade em períodos de incerteza política e económica, assumindo o papel de cobertura contra riscos geopolíticos. "A título de exemplo, o papel do ouro como importante elemento das reservas monetárias mundiais para a cobertura dos riscos comerciais e cambiais é particularmente indicativo da sua relevância enquanto ativo de reserva". Por outro lado, "a gestão da dívida externa de um país depende também das suas reservas financeiras. Uma baixa dívida externa está normalmente correlacionada com reservas suficientes, mas se o serviço da dívida implicar reembolsos em moeda estrangeira, então estas reservas podem ser fortemente ‘espremidas’".
Atendendo a que os recursos naturais providenciam uma proteção imediata contra choques geopolíticos inesperados, é importante que haja "stocks" suficientes desses produtos. No caso da energia, há desenvolvimentos geopolíticos, como a escalada das ofensivas militares no Médio Oriente ou as sanções internacionais – contra a Rússia e o Irão, por exemplo –, que podem perturbar as cadeias de fornecimento de produtos como o petróleo e o gás. Isso, claro, aumenta a volatilidade em bolsa. E quando os preços sobem nos mercados internacionais, as reservas estratégicas de cada país podem ser fortes aliadas. Foi o que aconteceu entre finais de 2021 e boa parte do ano seguinte nos Estados Unidos.
Nesse período, a Administração Biden recorreu a 216 milhões de barris das reservas petrolíferas de emergência do país - tendo depois, em 2023, começado a reconstituir esses "stocks" - para os compradores poderem adquirir a matéria-prima a preços mais baixos. Isto porque a covid-19 e o início da guerra na Ucrânia fizeram disparar os preços do crude para cerca de 120 dólares por barril nos mercados internacionais. Apesar dessa escalada, os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+) mantiveram o plano de colocar mensalmente no mercado "apenas" mais 400.000 barris por dia – não dando, assim, ouvidos aos pedidos de países como os EUA e Japão no sentido de abrirem ainda mais as torneiras.
Mas, no que diz respeito aos "stocks" energéticos, há outro lado a ter em conta. Para as indústrias dependentes de petróleo, os choques geopolíticos mexem de imediato com a dinâmica da oferta e da procura, pelo que ter um bom abastecimento do produto necessário é o mais desejável. Quando ocorrem ataques a infraestruturas petrolíferas ou são encerradas rotas marítimas importantes devido a conflitos geopolíticos – como sucedeu no mar Vermelho, devido aos ataques dos houthis do Iémen a embarcações com destino a Israel e a navios de guerra americanos e britânicos, o que acabou por perturbar também a passagem pelo Canal do Suez –, isso pode resultar numa repentina escassez de oferta. Daí que seja importante "haver uma diversificação dos fornecedores – diminuir a dependência do Médio Oriente, por exemplo, em prol de outras fontes –, algo que acontece quando existem preocupações de ordem geopolítica", refere a plataforma FasterCapital.
As tensões geopolíticas têm um efeito imediato nos preços das matérias-primas, sobretudo em duas das mais importantes – ouro e petróleo –, mas os movimentos nem sempre são semelhantes. O ouro tende logo a subir, mas o crude até pode ter uma tendência inicial de valorização e rapidamente acabar por estabilizar – especialmente se houver forças contrárias a atuarem em paralelo. Assim, como salienta a gestora de património Julius Baer, o ouro tende a prosseguir um ganho notável, ao passo que o petróleo pode deparar-se com um futuro mais incerto.
Mas uma coisa é certa: as tensões geopolíticas têm um impacto forte no "prémio" do preço spot. Ou seja, quando é percecionada incerteza, imprevisibilidade ou qualquer outra ameaça, os preços dos produtos para entrega imediata aumentam face às cotações dos contratos com uma entrega mais distante no tempo. E isto devido à perceção de risco associada ao investimento em determinada "commodity", às disrupções concretas da oferta e à instabilidade política que possa existir em grandes países produtores dos bens em questão.
Assim sendo, a conclusão é generalizadamente unânime: é preciso que os Estados tenham políticas económicas robustas e flexíveis para atenuarem os impactos dos riscos geopolíticos nas suas reservas nacionais e na gestão de recursos. E terem sempre em conta que, no que toca aos recursos naturais, facilmente qualquer tipo de instabilidade mexe com os preços.
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