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BNY "surpresa" por Trump "deixar sofrer" Wall Street
12/03/2025 10:00

"All in all" parece que o "'Trump 1.0' é muito diferente do 'Trump 2.0'". Quem o diz é Jon Bell, gestor de portefólio da Newton Investment Management, detida pela BNY Investments, na conferência de investimentos para a Europa quase três meses depois de o republicano ter voltado à Casa Branca.

Os clientes ouviam atentamente ao mesmo tempo que, no andar de baixo do Hotel Intercontinental em Lisboa, a Bloomberg TV lançava alertas a vermelho que noticiavam que Trump estava a dar mais um passo na guerra comercial e a anunciar que ia avançar com tarifas de 50% sobre o aço e alumínio importado do Canadá. Minutos depois a televisão piscava novamente a vermelho com o S&P 500 e o Dow Jones a aprofundarem as perdas das últimas sessões, enquanto as portas das salas se abriam e os presentes regressavam aos telemóveis para ver quanto tinham ganho ou, talvez mais provavelmente, perdido.

No início do ano, quando o magnata tomou posse, o mote era largamente positivo, particularmente no mercado acionista, com os investidores a recordarem que o empresário, no seu primeiro mandato, fazia muitas vezes depender as suas decisões do que acontecia nos mercados financeiros e, portanto, "desta vez tudo apontava para que fosse igual", diz Jon Bell. Agora, essa máxima parece ter caído. "Estamos surpreendidos por esta disponibilidade de Trump ver sofrer os mercados", com vários índices norte-americanos - incluindo o Nasdaq e o S&P 500 - já em território de correção, ao desvalorizarem mais de 10% desde o último pico, acrescentou o gestor de portefólio da Newton Investment Management.

Na sessão seguinte, April LaRusse, responsável de investimentos da Insight Investment, também da BNY Investments, confirmou a surpresa ao referir que se mostrou "chocada com a honestidade" do Presidente norte-americano ao admitir que poderia haver uma recessão no país. Questionado sobre se concordava com as previsões de uma recessão iminente avançadas pela Reserva Federal de Atlanta, que antecipa uma contração no primeiro trimestre, o republicano foi "estranhamente honesto".

O mote das sessões promovidas pela BNY, lançado logo no "outlook" inicial, foi de voltar aos básicos, promover a "diversificação dos portefólios – porque ser tático numa altura de incerteza radical irá ser vantajoso" – afirmou Sebastian Vismara, "head of economic research" da BNY Advisors, que garantiu que "o tempo das taxas de juro baixas chegou ao fim".

A posição da firma de investimento norte-americana é de que "os múltiplos das grandes tecnológicas estão exagerados, mas em linha com o forte crescimento dos lucros". Ou seja, fazem depender a prestação destas empresas norte-americanas "do crescimento dos resultados, da menor incerteza política, apoio orçamental e investimento". Para já o cenário não é positivo, acrescenta Sebastian Vismara: "O mercado norte-americano está caro, há pouco apoio orçamental, a incerteza política não é positiva e os investidores estão a reagir".

Num dia em que os responsáveis da BNY responderam a várias questões sobre a existência de uma bolha no setor tecnológico, especificamente nas "sete magníficas" – Apple, Microsoft, Nvidia, Alphabet, Amazon, Meta e Tesla – Jon Bell não se assusta, porque afinal de contas "a história não se repete, mas rima". O gestor de portefólio inicia a apresentação a arrancar risos da sala ao mostrar uma foto do próprio e do filho em criança, querendo provar o ponto de que "desta vez não é diferente, há muitas semelhanças: estamos os dois de fato, gravata às riscas, um com uma Nintendo e o outro com um iPhone".

Com as "big tech" a perderem milhares de milhões de dólares dia após dia, Bell defende que "o aumento sem precedentes da concentração tem sido uma desilusão e o risco de o mercado se desapontar é muito elevado". No entanto, acrescenta Dennis Wyles, gestor de clientes da Walter Scott, "os 'chips' estão em todo o lado, uma vez que os dados são o novo petróleo: acessível, seguro e confiável". As perspetivas para a inteligência artificial da BNY são, por isso, positivas, embora a solução passe por "procurar empresas de valor expostas a esta tecnologia", ou seja, cotadas consideradas "subavaliadas", por exemplo, no percentil mais baixo das avaliações do S&P 500 ou na Europa.