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Trabalhadores com contrato temporário correm três vezes mais risco de pobreza
15/05/2024 11:00

A taxa de risco de pobreza entre trabalhadores com contrato temporário é quase três vezes superior à de quem tem contratos permanentes. Sendo que, em 2023, 52% dos trabalhadores entre os 18 e 24 anos têm contratos temporários, demonstrando que os jovens estão particularmente vulneráveis a esta condição. Os dados são avançados pelo relatório "Portugal, Balanço Social 2023", apresentando nesta quarta-feira.

"O facto de os jovens em idade ativa terem uma maior probabilidade de contratos temporários, mas também de estarem no desemprego mostra que estão mais vulneráveis à pobreza do que a restante população adulta", explica Susana Peralta, professora da Nova SBE e coordenadora do relatório "Portugal, Balanço Social", ao Negócios.

Apesar de com estes dados não se poder deduzir que os movimentos emigratórios dos jovens portugueses continuarão a ocorrer, uma vez que há outros fatores que pesam nesta decisão, "o facto de os jovens em idade ativa terem uma maior probabilidade de desemprego e de contratos temporários mostra que a economia portuguesa não lhes oferece as mesmas oportunidades que oferece aos restantes adultos em idade ativa, o que certamente tem um impacto nas decisões de emigração", acrescenta a investigadora.

O relatório também apurou que, em 2023, a taxa de risco de pobreza subiu para 17%. Logo, o número de pessoas em risco de pobreza aumentou 60 mil. A taxa de pobreza aumentou principalmente entre as mulheres, com um aumento de 0,9 pontos percentuais em 2023. O aumento na prevalência da pobreza reflete-se em todos os grupos etários, principalmente entre as crianças, cuja taxa de pobreza aumentou 2,2 pontos percentuais face a 2022. A taxa de pobreza dos empregados foi de 10% em 2023 (-0,3 pontos percentuais face a 2022). Para os desempregados houve uma subida de 3 pontos percentuais, para 46,4%.

Apesar de, para o ano de 2023, ainda não existirem microdados que permitam fazer análises mais finas ao nível da situação das famílias e dos indivíduos, "a desaceleração da economia, bem como o aumento das taxas de juro e um comportamento menos favorável do mercado do trabalho poderão estar por detrás deste aumento que é, de todo o modo, ligeiro", afirma Susana Peralta.

De salientar ainda que, segundo o relatório, os problemas que os residentes afirmam ser mais relevantes para Portugal são a inflação, a saúde e a situação económica.

A inflação levou à subida da insatisfação económica, que afeta quase dois terços da população pobre. Aumentou a percentagem da população pobre sem capacidade para aquecer a casa, fazer face a despesas inesperadas, pagar uma semana de férias, consumir proteína em dias alternados, etc.

Em 2023, mais de 90% das pessoas com dificuldades financeiras avalia como má a situação da economia e do mercado de trabalho português. E uma em cada três pessoas com dificuldades financeiras acha que a sua situação vai piorar, resultando em pessimismo e menor confiança nas instituições. "Este tipo de indicadores mostra que as margens mais desfavorecidas da população sentem que o país não lhes proporciona as mesmas oportunidades do que a outros grupos socioeconómicos e suscita algumas questões relativamente à qualidade da democracia e ao sentimento de coesão social", refere a coordenadora do relatório.

 

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